A entrevista em Havana adverte:

A entrevista em Havana adverte: chegou a hora da escala técnica numa oficina especializada em neurônios avariados

“A senhora está engasgada com as notícias sobre a sua estada em Lisboa?”, quis saber uma jornalista quase no fim da entrevista coletiva em Havana. Confiram a resposta de Dilma Rousseff, publicada no Portal do Planalto e abaixo reproduzida sem correções nem retoques:
Olha, eu vou te falar, viu? Eu acho fantástico. Vou te falar o que é que eu acho fantástico. Eu fui pra Zurique, e pra Davos. E tinha uma estrutura em Zurique e Davos. E não comparem o gasto em Zurique, ou na Suíça, com o gasto em Portugal. Tá certo? Não vamos comparar. Agora, interessante é que foram procurar meu gasto lá em Portugal, e não em Zurique.
A minha estrutura, aliás, até vocês lembram, houve aquela crítica violenta ao “aeroLula”, vocês lembram disso? Bom, o avião chamado “aeroLula”, ele não tem autonomia de voo, ao contrário dos aviões do México e de outros países, da Argentina, é, aqui você vai achar vários aviões com maior autonomia que a minha. Eu, pra ir,  faço uma escala. Para voltar, eu faço duas, para voltar pro Brasil. Neste caso agora nós tínhamos uma discussão. Eu tinha que sair de Zurique, podia ir para Boston, ou pra Boston, até porque… vocês vão perguntar, mas é mais longe? Não é não, a Terra é curva, viu?
De Zurique eu ia para Boston, para Pensilvânia, ou para Washington. Acontece, como vocês sabem, tinha, podia ter, podia, não se sabia se confirmaria ou se não confirmaria. Tinha um problema forte lá por causa das nevascas. Então a Aeronáutica montou uma outra alternativa. Eu cheguei. Qual é essa outra alternativa? Eu fui para Lisboa com a equipe que estava comigo em Zurique e Davos. Tá? E lembra bem, hein? Tem uma parte da equipe que faz mais escalas do que eu, porque o meu é um airbus-319. O deles é um avião do Escav, o avião reserva, ele tem menos autonomia de voo ainda do que o meu. Bom, então saí de Zurique, pousei na… em Lisboa às 5h30 da tarde, e fui embora às 9 horas da manhã. Quem anunciou que eu estava passando um fim de semana em Lisboa não sabe fazer a conta. Eu dormi em Lisboa.
No que se refere a restaurante, eu quero avisar pra vocês o seguinte: é exigência de todos, para todos os ministros, eu só faço exigência que eu também exijo de mim, que quem jantar ou almoçar comigo, pague a sua conta. Já houve casos chatos no dia do meu aniversário porque a conta foi um pouquinho alta e tinha gente – que eu não vou dizer quem – que estava acostumado que seria um pagamento do governo. No meu aniversário eu paguei a minha parte, porque é assim que eu lido com isso. Então, não vem… eu posso escolher o restaurante que for, desde que eu pague a minha conta. Eu pago a minha conta, pode ter certeza disso.
Pode olhar em todos os restaurantes que eu estive, em alguns causando constrangimento porque fica esquisito uma presidente e uma porção de ministros fazendo aquela conta: “é quanto para cada um? Soma aí, deu quanto?” E com calculadora. Tem gente que acha estranho. Eu acho que isso é extremamente democrático e republicano. Não tem… Não, só um pouquinho. Não tem a menor condição de, alguma vez, eu usar cartão corporativo. Não fiz isso. Até, no meu caso, está previsto para mim cartão corporativo, mas eu não faço isso porque eu considero que é de todo oportuno que eu dê exemplo, diferenciando o que é consumo privado do que é consumo público. Então, podem ter certeza disso.
Nenhum jornalista se atreveu a perguntar como foram pagas as contas dos hotéis. Ninguém pediu à entrevistada que justificasse o sigilo que encobre desde maio de 2013 a gastança com viagens presidenciais. O palavrório só serviu para escurecer o que estava cinzento. Por isso mesmo, deixou claro que  chegou a hora da escala técnica numa oficina especializada em reparar neurônios solitários. Pelo andar da carruagem, daqui a pouco até Dilma Rousseff vai ficar perplexa com o que diz a presidente da República.

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