Protestos de 12 de abril têm o dobro de cidades confirmadas na comparação
com 15 de março.
Agora, objetivo dos organizadores é aumentar atos no Nordeste
Menos de um mês depois de enfrentar o maior
protesto popular da democracia brasileira, a presidente Dilma Rousseff volta
neste domingo a ser alvo de uma série de manifestações contrárias a seu governo
em todo o país.
A mobilização tem o apoio de 75% dos brasileiros, segundo o
Datafolha.
Pesquisadivulgada
neste sábado pelo instituto indica que 63% dos brasileiros são favoráveis à
abertura de um processo de impeachment contra a presidente por
causa do escândalo do petrolão. Para 57% dos entrevistados, Dilma sabia do
esquema de corrupção na Petrobras e deixou que ele acontecesse.
Se levaram mais de 2 milhões de pessoas às ruas em
15 de março, os organizadores dos protestos buscam neste domingo mais do que
uma numerosa adesão nas grandes capitais: o foco agora é espalhar os atos por
mais cidades brasileiras, sobretudo no Norte e Nordeste, tradicionais redutos
eleitorais petistas.
Na avaliação dos movimentos Vem pra Rua e Brasil Livre,
dois dos principais grupos por trás dos atos, a mobilização de mais brasileiros
nessas regiões representará um golpe ainda mais duro contra o governo, além de
lançar por terra o argumento petista de que as manifestações são uma tentativa
de terceiro turno, protagonizada pela "elite" do Sul e Sudeste.
Em 15 de março, segundo a Polícia Militar, houve 1
milhão de pessoas nas ruas de São Paulo.
Outras 200.000 protestaram em Porto
Alegre e Vitória. Já as nove capitais do Nordeste somaram 75.000 manifestantes.
Embora menor, o número é expressivo tendo em vista que que a presidente Dilma
obteve 70% dos votos na região nas eleições do ano passado.
Não à toa, os
organizadores das manifestações buscaram desde março expandir sua área de
atuação no país, formando células sobretudo no Norte e Nordeste.
Se, em 15 de
março, eram 241 as cidades com atos confirmados, agora são 413 - a maioria dos
novos municípios, nas duas regiões.
"O nosso objetivo não é ficar batendo
recordes de pessoas nas ruas, mas ter representatividade em mais lugares",
diz Rogério Chequer, líder do Vem pra Rua.
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O sucesso das manifestações de 15 de março também é
responsável pelo aumento das cidades com protestos confirmados.
De lá para cá,
grupos insatisfeitos com o governo e defensores de ideias liberais entraram em
contato com, ou foram procurados por, MBL e Vem pra Rua para convocar atos em
suas respectivas localidades.
Para integrar o movimento, eles se submetem a um
processo que atesta seu alinhamento com a pauta dos movimentos. "Faço num
primeiro momento perguntas básicas que se adequem à nossa ideologia liberal,
coisas como 'Qual sua opinião sobre a privatização da Petrobras?'.
Caso a pessoa
se pronuncie contrária às privatizações, ela é descartada na hora.
Também entro
no mérito do assistencialismo e cotas, tanto raciais como sociais",
explicou Caíque Mafra, coordenador do Brasil Livre e responsável por
arregimentar os grupos em outros Estados.
Depois de passar por essa fase, os novos
integrantes do MBL recebem uma planilha em Power Point instruindo-os a atuar
nas redes sociais e a angariar recursos para realizar um protesto.
A
comunicação entre as lideranças nacionais e regionais se dá quase que
diariamente pela internet. Um dos líderes nacionais do Brasil Livre, Renan
Haas, relata que grupos ligados a partidos de oposição já tentaram "se
apropriar" do movimento em alguns lugares, mas, segundo ele, foram
rechaçados assim que descoberta a filiação partidária.
"Nós tentamos
evitar ao máximo os oportunistas, mas às vezes eles aparecem. Não tem
jeito", afirma.
Diferenças - Os
grupos do Nordeste se diferenciam dos do Sudeste em alguns aspectos.
Os mais
evidentes são o perfil menos ideológico dos manifestantes e a incorporação de
pautas locais às reivindicações tradicionais de destituir a presidente do poder
e do combate à corrupção.
"Nossos manifestantes não são tão politizados
quanto os do Sudeste. Eles não se atêm a temas ideológicos, como o Foro de São
Paulo, socialismo, ou Cuba. Para eles, a coisa pega quando aperta no bolso.
O
que os influenciou foi principalmente o aumento das tarifas de luz e gasolina,
o aumento do desemprego e a alteração nos direitos trabalhistas", afirma
Paulo Angelim, líder do Vem pra Rua no Ceará.
Fortaleza, capital do Estado,
registrou em 15 de março o maior protesto no Nordeste: 25.000 pessoas.
Ele
também cita a promessa feita pelo governador Camilo Santana (PT) durante
campanha eleitoral - agora descartada pela Petrobras - de que construiria uma
refinaria no Estado como um dos gatilhos que levaram a população às ruas.
"Isso se revelou um grande embuste eleitoreiro.
E repercutiu negativamente
entre o povo, que se sentiu traído", acrescenta. "O governo nos
acusou na primeira manifestação de sermos eleitores frustrados.
Na verdade, os
atos estão sendo feitos aqui por eleitores arrependidos", afirma.
O mesmo ocorre em cidades da Bahia, onde os
manifestantes saíram às ruas para pedir melhorias nas áreas de segurança, por
exemplo.
"O governo de Jaques Wagner (PT) foi muito ruim principalmente na
questão da segurança pública.
A ideia do impeachment vingou
com reivindicações de ordem municipal. As lideranças das cidades sempre
enfatizam que querem protestar contra administração do PT nos municípios",
afirmou Ricardo Almeida Mota Ribeiro, líder do MBL na Bahia.
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As lideranças nacionais veem no Norte e Nordeste
regiões potenciais para ampliar sua influência. "No Centro-Sul, o
movimento já cresceu bastante.
No Nordeste, isso ainda é novidade. Por isso,
estamos muito focados nisso, em ver a base de Dilma na região ruir",
avaliou Renan Haas, do Brasil Livre.
Novos grupos - No
Sudeste, somam-se a esses grupos movimentos criados depois do 15 de março.
O
maior exemplo está em São Paulo: na reunião entre lideranças dos protestos e a
PM, compareceram quatro entidades a mais do que no encontro passado - Acorda Brasil,
Movimento 15 de Março, Quero me Defender e União Nacionalista Democrática.
Criado há cerca de vinte dias, o Movimento 15 de Março é formado por
remanescentes do Vem pra Rua e do Brasil Livre. Agora, os movimentos originais
terão de dividir o espaço
da Avenida Paulista, no Centro de São Paulo.
Kim Kataguiri (MBL)
Kim
Kataguiri, 19 anos, é um dos coordenadores nacionais do Movimento Brasil Livre
e acaba de largar o curso de economia na Universidade Federal do ABC para se
dedicar exclusivamente ao ativismo político. Apesar do movimento ser
pulverizado, ele é o principal rosto do grupo na internet. Seu ativismo na web
começou quando tinha 17 anos, antes do movimento organizar as primeiras
manifestações. Em seu primeiro vídeo no youtube, Kataguiri quis dar uma
resposta a um professor de economia da Universidade Federal do ABC (Ufabc) que
defendeu o Bolsa Família durante um discussão na aula. Como era minoria na
sala, preferiu fazer uma resposta online. “O vídeo se viralizou para além da
universidade. Percebi que poderia usar a internet para fazer uma defesa dos
Fábio Ostermann (MBL)
O
cientista político gaúcho Fábio Ostermann, 30 anos, é o mentor intelectual do
Movimento Brasil Livre. Com um currículo acadêmico que inclui passagens pela
Georgetown University, nos Estados Unidos, e o International Academy for
Leadership, na Alemanha, Ostermann ajuda a organizar as manifestações no sul do
país, além de fóruns e palestras que defendem as ideias liberais, como o Fórum
Pela Liberdade. No último domingo, foi responsável por promover uma aula
pública “ABC do Impeachment“, no Parque Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
“Temos explicar que o impeachment é um mecanismo democrático garantido por
nosso ordenamento jurídico. Vivemos no Brasil hoje uma situação limite que
desafia a estabilidade das nossas instituições.
Lourraine Alves (MBL)
A
advogada carioca Lourraine Alves, 35 anos, não sabia o que era militância
política até aderir ao Movimento Brasil Livre, em janeiro de 2015. O convite
veio através dos coordenadores nacionais do movimento, em São Paulo, que
pretendiam abrir uma filial no Rio de Janeiro. “Sempre tive medo de
manifestação de rua, mas, com a polarização nas redes sociais, fiquei revoltada
com alguns esquerdistas e aderi a causa”, defende. Lourraine afirma que
defender o impeachment é uma forma de pedir “ética na política”. Uma das
organizadoras do ato que terminou em brigas na sede da Petrobras no Rio de
Janeiro, ela diz que só não apanhou porque uma mulher filiada a Central Única
dos Trabalhadores (CUT) impediu que dois homens a agredissem. “Por pouco não
apanhei, mas recebi xingamentos de vagabunda, piranha para baixo. São pessoas
como essa que pretendemos tirar o governo”, defende.
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