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Artilharia do governo não deve tirar Nardes do julgamento das contas de
Dilma
Interlocutores do
presidente do TCU, Aroldo Cedraz, sinalizaram que Tribunal usará precedente da
refinaria de Pasadena para descartar pedido de suspeição da AGU Por: Ana Clara Costa, de
Brasília 05/10/2015
O ex-presidente do
TCU, Augusto Nardes, durante o EXAME Fórum 2015(Heitor Feitosa/VEJA)
O presidente do
Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz, sinalizou a ministros, nesta
segunda-feira, que deve descartar o adiamento do julgamento das contas da
presidente Dilma Rousseff, agendado para quarta-feira.
No final da tarde,
Cedraz recebeu o ministro da Advocacia-geral da União, Luis Inácio Adams, que
protocolou uma arguição de suspeição do ministro Augusto Nardes, relator das
contas de 2014 da presidente.
A medida, se acatada pelo Tribunal, suspende a
participação do ministro-relator do julgamento desta quarta.
Com isso, o TCU
teria de determinar um novo nome para relatar as contas, o que adiaria o
julgamento possivelmente até o ano que vem.
A principal argumentação de Adams é
de que Nardes revelou seu voto à imprensa antes do julgamento, o que contraria
a Lei Orgânica da Magistratura.
Interlocutores do
órgão afirmaram que os ministros não acreditam haver justificativa para adiar o
julgamento das contas.
Alegam que há um precedente que embasa a decisão: quando
houve o julgamento da compra da refinaria de Pasadena, no Texas, o então
ministro José Jorge também havia sido alvo de pedido de suspeição, que foi
derrubado logo no início da sessão, após explicações dadas pelo ministro.
Segundo interlocutores do Tribunal, o precedente de Pasadena deve ser usado na
quarta-feira pelo presidente Aroldo Cedraz, para dar sequência à votação.
O julgamento das
'pedaladas' fiscais pode dar origem ao argumento jurídico de que a oposição
precisa para embasar o pedido de impeachment da presidente.
O TCU deve
recomendar a reprovação das contas de 2014 com base em 15 irregularidades
graves apontadas pelos técnicos - 13 foram analisadas em julho e duas novas
irregularidades foram apresentadas em agosto pelo procurador do Ministério
Público junto ao TCU, Julio Marcelo de Oliveira.
A principal falha apontada é o
uso de dinheiro de bancos públicos para custear programas sociais, como o Bolsa
Família, que configura crime de responsabilidade, previsto na Lei de
Responsabilidade Fiscal (LRF).
O TCU apurou que o governo executou operações de
crédito para bancar programas sociais, o que é proibido por lei.
Na defesa
preparada pela AGU, a justificativa é de que os bancos foram "prestadores
de serviço", e não provedores de crédito.
Se a reprovação se concretizar,
caberá ao Congresso votar a recomendação do TCU.
O pedido do governo
para a suspeição de Nardes alega "vício" no processo.
Se tudo
corresse como gostaria o ministro da AGU, Nardes poderia ser afastado e um novo
relator seria nomeado.
A partir daí, com base em um novo relatório, os
ministros poderiam definir seu voto.
A investida do governo se dá num contexto
em que há a certeza, dentro do Palácio do Planalto, de que a maioria dos
ministros votará com o relator, ou seja, pela reprovação das contas.
Seu
afastamento significaria "ganhar tempo" para reverter o quadro
político.
No Palácio do Planalto, o sentimento é de que, apesar do fôlego
conseguido pelo governo com a reforma ministerial, ainda não há força política
suficiente para barrar uma investida da oposição que tem como embasamento uma
acusação de crime de responsabilidade.
Outro foco de
preocupação para o governo é o fato de o presidente da Câmara, Eduardo Cunha,
não esconder a intenção de viabilizar a apreciação das contas.
Nesta segunda,
Cunha criticou a ofensiva do governo contra o julgamento das contas.
"Acho
muito ruim [a estratégia do governo].
Não acho que a melhor maneira de você ir
para um jogo de futebol seja tirando o juiz de campo.
Me parece mais uma
tentativa de adiar", disse.
"Não acho isso correto. Estranho que
depois de tanto, tantos pedidos de prorrogação de prazo e de reuniões, de
repente na véspera do julgamento é que fala isso [suspeição de Nardes].
Deveria
ter falado no primeiro momento. Me parece uma reclamação meio tardia",
completou o deputado.
O ministro Augusto
Nardes rebate o argumento do governo afirmando que tudo o que revelou ao longo
dos últimos meses consta de seu relatório preliminar, tornado público em julho
deste ano.
Em nota publicada nesta segunda, acusou o Palácio do Planalto de
tentar "intimidá-lo" e classificou a atuação do governo como
"pressão" para viabilizar seu afastamento da relatoria do caso.
O ministro da
Justiça José Eduardo Cardozo disse também nesta segunda-feira não só que o
ministro Augusto Nardes violou a Lei da Magistratura, mas também que,
inclusive, buscou órgãos de imprensa para dar declarações que insinuavam o teor
de seu voto, como a de que o TCU "vai fazer história".
Cardozo disse
a jornalistas, no Palácio do Planalto, que o governo só pediu a suspeição de
Nardes agora porque o ministro intensificou, nas últimas semanas, sua
interlocução sobre o voto.
"Um ministro do Supremo que escreve um artigo
sobre um tema que depois pode vir a ser julgado, em geral, se declara impedido.
No caso do ministro do TCU, isso deveria acontecer também", disse Cardozo.
O ministro da
Justiça, por sua vez, negou que o governo queira uma "judicialização"
do processo.
Afirmou que, se assim fosse, teriam recorrido ao Supremo Tribunal
Federal (STF) diretamente, sem passar pelo TCU.
"Se nossa intenção fosse
ir à Justiça, não iríamos ao Tribunal.
Mas isso também não impede que
questionemos essa decisão em outras instâncias.
Queríamos fazer a coisa certa
porque respeitamos o órgão", afirmou Cardozo.
O ministro da Justiça
afirmou que recorrer ao STF será o próximo passo.
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