Araçatuba A fumaça de fogão de lenha e de churrasco pode provocar câncer de boca.
Esse é o resultado alarmante de uma pesquisa científica desenvolvida por um dos mais conceituados oncologistas do país, o professor Luiz Paulo Kowalski, diretor do departamento de cirurgia de cabeça e pescoço do Hospital de Câncer A.C. Camargo, de São Paulo, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) e uma das maiores autoridades mundiais em câncer de boca, com várias publicações no Exterior.
O estudo revelou que pessoas que comem churrasco ou carne grelhada mais de três vezes por semana têm de cinco a sete vezes mais possibilidade de desenvolver o câncer de boca.
O problema está na fumaça do carvão para grelhar o churrasco, afirma o oncologista.
A fumaça contém agentes causadores de câncer que ficam impregnados na carne e, em contato direto com a boca, podem provocar a doença.
O fogão de lenha, sinônimo de nostalgia e de comida saborosa, também tem efeito nocivo.
O problema é o mesmo que no churrasco.
A fumaça da lenha aumenta em duas vezes as chances de se desenvolver o câncer de boca.
Neste caso, a pesquisa, desenvolvida há cinco anos pelo Instituto Ludwig de Pesquisas sobre o Câncer, do Hospital de Câncer de São Paulo, constatou que numa casa com fogão de lenha há oito vezes mais quantidade de partículas em suspensão com agentes causadores de câncer do que em ambiente limpo.
As medições foram feitas em Rio Branco do Sul e Bocaiúva do Sul, municípios da Região Metropolitana de Curitiba (PR) onde, devido ao frio, muitos camponeses ainda utilizam o fogão a lenha.
O estudo teve a colaboração da universidade japonesa de Tokay, que fez as visitas nas casas.
"A questão é a poluição ambiental.
A fumaça em contato com a boca é que provoca o câncer", diz Kowalski.
Ele explica que a fumaça proveniente da queima da lenha e do carvão do churrasco tem característica diferente da fumaça do cigarro, que contém nicotina, embora ambos os tipos sejam fatores de risco.
O estudo analisou ainda outros fatores de risco, como o tabaco, o álcool, o chimarrão, o uso de prótese dentária e a alimentação.
A pesquisa confirmou que todos esses fatores exercem influência no desenvolvimento do câncer bucal, incluindo o uso de prótese que não se adequa à boca ou que machuca.
Nesse caso, os riscos de aparecimento de câncer aumenta em duas a três vezes.
A pesquisa teve como base dados comparativos de 700 pacientes de três hospitais - o Hospital de Câncer de Curitiba, o Hospital de Câncer de Goiânia e o Complexo Hospitalar Heliópolis de São Paulo.
Os pacientes foram comparados a 1,4 mil pessoas saudáveis, em uma proporção de um caso para cada dois controles.
Folha da Região - O estudo sugere que o brasileiro coma menos churrasco?
Luiz Paulo Kowalski -
É bom que isso fique claro.
Ninguém precisa parar de comer churrasco e nem ficar com a consciência pesada por comer.
Não estamos pregando isso.
A pesquisa apontou que os riscos existem para quem come carne grelhada mais de três vezes por semana. Você pode continuar comendo churrasco ou outra carne grelhada desde que de forma moderada.
FR - E quanto ao fogão de lenha? O brasileiro pode continuar mantendo um em casa?
Kowalski - É a mesma coisa. Mas desde que se use uma chaminé adequada, que impeça contato direto com a fumaça, e que se tenha um ambiente ventilado, você pode usar o fogão de lenha.
FR - A fumaça do fogão de lenha e do carvão do churrasco é a mesma que a fumaça da nicotina do cigarro?
Kowalski - São coisas diferentes. A fumaça do fogão de lenha e do carvão do churrasco apresentam partículas com centenas de agentes causadores de câncer.
Vale mencionar aqui que o cigarro é o grande vilão da saúde e que associado ao álcool é uma mistura perigosíssima, aumentando em 150 vezes os riscos de se ter câncer de boca.
FR - A incidência do câncer bucal vem aumentando no Brasil?
Kowalski - Só para este ano estão previstos mais de 10 mil novos casos no país.
A incidência aumentou principalmente entre as mulheres e os jovens, que passaram a fumar e a beber.
FR - O fato de o câncer de boca ser ainda uma doença pouco divulgada agrava a situação?
Kowalski - Sim, é por isso que há muitos casos com diagnóstico tardio. Não é difícil ver casos de pacientes que chegam no consultório e falam: "doutor, jamais imaginava que câncer se dava na boca".
É, portanto, preciso criar essa idéia na população para que ela se previna, tenha uma alimentação melhor, faça o auto-exame e procure o médico a qualquer suspeita.
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