Nos últimos dias, o juiz Sérgio Moro explicitou de vez seu ativismo político:
1- Manteve um fluxo interminável de vazamentos contra Lula, em relação ao tal tríplex de Guarujá e o sítio de Atibaia.
2- Quebrou "inadvertidamente" o sigilo que a própria Polícia Federal solicitava para a ampliação das investigações sobre o sítio, a fim de não interromper o fluxo de vazamentos.
3- Mandou deter funcionários da Murray, empresa controlada pela Mossak Fonseca, lavanderia panamenha, em nome da qual estavam vários imóveis do edifício Solaris de Guarujá.
Quando se soube que a Murray detinha o controle também da mansão dos Marinho, das Organizações Globo, em Paraty, foram soltos imediatamente e o assunto morreu.
Essas preliminares são importantes para se analisar os antecedentes de sua decisão de "oferecer" ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) três delatores visando incriminar o Caixa 1 da campanha de Dilma Rousseff.
Esse jogo estava desenhado desde novembro de 2014, logo após o encerramento das eleições:
No dia 18 de novembro de 2014, alertado por fonte altamente informada, publiquei o post "Armado por Toffoli e Gilmar já está em curso o golpe sem impeachment".
Lá, explicava que o processo de impeachment exigiria 2/3 do Congresso a favor.
Já a rejeição das contas impediria a diplomação.
A estratégia de Toffoli e Gilmar consistiria em trabalhar o conceito de irregularidade no caixa 1.
"Gilmar alegará que algum financiamento oficial de campanha, isto é Caixa 1, tem alguma relação com os recursos denunciados pela Operação Lava Jato.
Aproveitará o enorme alarido em torno da Operação para consumar o golpe".
No dia 21 de novembro, Gilmar montou uma operação de guerra para analisar as contas de Dilma, inclusive digitalizando todos os recibos e colocando na Internet, confirmando o que antecipara.
No dia 22 de novembro, sob o título "Juiz Moro monta a segunda garra da pinça do impeachment" relatava o segundo passo da operação, a decisão de Moro de estender a quebra de sigilo das empresas de Alberto Yousseff até 2014.
Nos dias seguintes, Moro e a Lava Jato trataram de abastecer a imprensa de notícias insistentes sobre o Caixa 1 visando preparar o clima para a votação final no TSE.
No dia 25 de novembro, por exemplo, o pessoal de Moro vazou para o Estadão uma tal "Operação Apocalipse", um executivo da Galvão Engenharia teria feito em junho desembolso a emissário da Petrobras. Informava que, segundo Paulo Roberto Costa, o dinheiro ia para Renato Duque que repassaria parte para o PT.
Por aqueles dias, advogados de empreiteiros acusaram Moro de estar ocultando o nome de políticos mencionados nas delações, visando manter o controle sobre aspectos políticos da operação.
No dia 26 de novembro Moro veio a público defender-se da acusação.
Admitiu que crimes de agentes políticos eram da alçada do STF e sustentou que se limitava a apurar "crimes licitatórios, de lavagem e, quanto à corrupção, apenas de agentes da Petrobras".
Por pouco Gilmar não logrou emplacar a tese do Caixa 1.
Já tinha assegurado 3 votos a favor quando Luiz Fux, o esperado quarto voto, refugou.
Sem ter maioria, Gilmar acabou votando pela aprovação das contas com ressalvas.
Gilmar não desistiu.
No dia 30 de agosto de 2015, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot arquivou pedido de Gilmar para investigar duas prestadoras de serviços da campanha de Dilma.
Janot alegou "a inconveniência" da Justiça Eleitoral e Ministério Público Eleitoral se tornarem "protagonistas exagerados do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores", demonstrando ainda preocupação de haver judicialização exagerada capaz de atrapalhar as condições de governabilidade do país.
Agora, Moro joga a última grande cartada, com essa proposta de transformar o TSE em um tribunal criminal, para ouvir depoimentos de presos da Lava Jato.
Comprova que a Lava Jato virou o fio e se despiu das preocupações de aparentar uma postura neutra.
Por já ter virado o fio, provavelmente será a última tentativa de Gilmar Mendes e Moro de atuar politicamente através da Justiça.
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Superado mais esse movimento, espera-se que volte uma relativa normalidade política para que o governo comece a governar e a oposição a fazer a crítica política – como ocorre nas democracias maduras, e não nas republiquetas de Terceiro Mundo.
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