◘ SANTANDER CONDENADO NA JUSTIÇA DO TRABALHO, NO CASO DA ANALISTA DEMITIDA POR ORDEM DE LULA.

Foto: Ana Paula Paiva/Valor/Folhapress
04/02/2016
 às 9:00 \ O País quer Saber

A derrota do reizinho prepotente e do banqueiro sabujo: TRT confirma sentença que condenou o Santander a indenizar a analista demitida por ordem de Lula

Há duas semanas ─ um ano, cinco meses e vinte dias depois de perder por ordem de Lula o emprego no Santander ─, Sinara Polycarpo Figueiredo ganhou a segunda etapa da batalha judicial travada contra o banco que a demitiu. 
Neste 21 de janeiro, a juíza Cynthia Gomes Rosa, do Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, manteve a sentença expedida em agosto de 2015 pela juíza Lúcia Toledo Silva Pinto Rodrigues, que condenou a instituição financeira a pagar uma indenização de R$ 450 mil por danos morais infligidos à funcionária castigada por ser honesta.
Ao recorrer da decisão em primeira instância, o Santander apenas adiou a consumação da derrota. 
Não há como inocentar o comando do banco, grita a reconstituição do monumento à subserviência que começou em 10 de julho de 2014, quando um documento produzido pela área chefiada por Sinara foi distribuído entre um grupo de clientes com renda mensal superior a R$ 10 mil. 
Na sentença, a juíza Lúcia registrou que o texto se limitara a endossar “constatações uníssonas entre os analistas do mercado financeiro e nas diversas mídias independentes sobre investimentos”.
A fúria da seita lulopetista foi desencadeada pelo trecho do documento segundo o qual “a economia brasileira continua apresentando baixo crescimento, inflação alta e déficit em conta-corrente”. 
Linhas adiante, o diagnóstico nada empolgante observa que a onda de previsões sombrias se adensava sempre que Dilma subia nas pesquisas. 
Neste início de 2016, passados dezoito meses, a releitura da análise demonstra que a equipe de Cinara se excedeu na timidez. 
As coisas estavam muito piores. 
Era questão de tempo o naufrágio consumado em 2015.
Lula e seus sequazes acham que, numa campanha eleitoral, o único crime é perder. 
O resto pode. 
Matar a mãe, por exemplo. 
Ou afanar a poupança da avó. 
Previsivelmente, o chefão fingiu enxergar num papelório inofensivo a prova material de que até bancos estrangeiros estavam envolvidos na conspiração urdida para encerrar a supremacia do PT. 
A ofensiva contra o diagnóstico do Santander começou assim que cópias do documento chegaram à imprensa. 
E atingiu o climax com o ataque em pinça executado por Dilma e Lula em 28 de julho de 2014.
Numa sabatina na Folha, transmitida pelo SBT e pela rádio Jovem Pan, Dilma puxou o trabuco do coldre: 

“Sempre que especularam não se deram bem”, apertou o gatilho ao responder a uma pergunta sobre a análise do Santander. 

“Acho inadmissível um país que está entre as maiores economias aceitar qualquer interferência externa. 

A pessoa que escreveu a mensagem fez isso sim, e isso é lamentável, é inadmissível”. 

Os disparos precipitaram a entrada no saloon de Lula, o pistoleiro que primeiro atira e depois pergunta. Quando pergunta.


No mesmo dia, num encontro noturno organizado pela CUT em Guarulhos, Lula acionou o tresoitão. 
No vídeo, andando de um lado para o outro, o copo até aqui de cólera abre o numerito repulsivo cobrando gratidão do banco presidido pelo amigo Emílio Botín. 
“Não tem lugar no mundo onde o Santander esteja ganhando mais dinheiro que no Brasil”, rosna o animador de comício, que em seguida recorda conversas e episódios que reduziam o banqueiro espanhol a um bajulador grávido de admiração pelo Lincoln de galinheiro. 
Por isso mesmo merecia o benefício da dúvida, informa a continuação do palavrório.
“Ô Botín, é o seguinte, querido: olha, eu tenho consciência que não foi você que falô”, concede Lula na abertura do mais sórdido momento de uma trajetória atulhada de infâmias: o antigo líder sindicalista vai ordenar ao dono do Santander que demita uma trabalhadora cujo único pecado fora contar a verdade aos clientes. 
“Mas essa moça tua que falô, ô, essa moça não entende porra nenhuma de Brasil e não entende nada de governo Dilma. 
Me desculpe… Mantê… mantê uma mulher dessa num cargo de chefia é, sinceramente… 
Pode mandar ela embora e dar o bônus dela para mim que eu sei como é que eu falo”.
Assim se fez. 
Dois dias depois de formulada a exigência, Sinara foi demitida com outras duas pessoas de sua equipe. 
“Enviamos uma carta à presidente”, rastejou Botín em 30 de julho. 
“A pessoa tinha que ser demitida porque fez coisa errada”. 
O banqueiro espanhol não viveu para festejar a reeleição de Dilma. 
Morreu em setembro, um mês antes de completar 28 anos no cargo. 
Substituído pela filha e herdeira Ana Botín, o campeão da sabujice escapou de ler as considerações incluídas na sentença exarada em primeira instância e agora ratificada pelo Tribunal Regional do Trabalho.
A juíza Lúcia Toledo Silva Pinto Rodrigues entendeu que o banco maculou a carreira profissional de Sinara ao retratar-se publicamente pelo ocorrido. Concluiu, também, que o Santander foi longe demais ao agachar-se diante de Lula. Confira um trecho da sentença:
“O Banco reclamado foi sim submisso às forças políticas ao demitir a reclamante. 
Somente demonstrou a parcialidade da instituição em atender os interesses políticos que estavam em jogo na época por conta da eleição e a falta de comprometimento perante seus clientes investidores que, se acreditassem na assertiva de que a economia seguiria a ‘bem-sucedida trajetória de desenvolvimento’, fatalmente amargariam prejuízos financeiros, dada a retração da economia e a desvalorização do nosso câmbio e dos ativos negociados na bolsa de valores”.

Nesta primeira semana de fevereiro, o documento que resultou na degola da analista foi transformado num monumento ao otimismo pelas apavorantes dimensões da crise econômica. Isolada em seu labirinto, Dilma Rousseff luta para adiar o enterro em cova rasa. 
Emilio Botín é só um quadro nas paredes do Santander. 
Lula, enredado em maracutaias urbanas e rurais, caminha para a morte política. 
Apenas Sinara está liberada para divertir-se no Carnaval. 
Ela derrotou seus algozes. 
O banqueiro poltrão e o reizinho prepotente perderam.

COM REPORTAGEM DE NAOMI MATSUI


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