Publicado em 15 de mar de 2016
Vejam neste vídeo como a história está preste a se repetir como no passado.
É impressionante as comparações dos tempos de 1961 a 1964 com os dias de hoje.
Confira e veja que o Brasil repetirá o mesmo erro!
Não deixem que isso se repita.
O sistema não pode comandar o povo como gados e fazer de todos, ´palhaços da ideologia governamental!
PARLAMENTARISMO EM 2016-
NÃO DEIXEM ACONTECER.!!!
VEJAM O VIDEO, LEIAM O TEXTO DE "O CRUZEIRO", E TIREM SUAS CONCLUSÕES, TODA SEMELHANÇA COM OS DIAS DE HOJE NÃO É COINCIDÊNCIA.
Um pouco da história .
- O Cruzeiro Extra (1964) (Para arquivar.
Trata-se de um pedaço da nossa História)
Vale a pena recordar!
Para as novas gerações é muito importante saber o que foi dito na época!
O Cruzeiro Extra (1964)
Veja a edição histórica de "O Cruzeiro", de 10 de abril de 1964.
Leia e relembre aos seus amigos mais novos - ou esquecidos - o que de fato aconteceu naquela época e conclua como HOJE estão distorcendo os fatos.
Veja porque, na verdade, aconteceu a contra-revolução de 64 e qual foi a posição assumida pela mídia e pelo povo.
O Cruzeiro - 10 de abril de 1964 - Edição extra (hiperlink)
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Fala aos sargentos: Princípio do fim
Texto de Glauco Carneiro - Fotos de João Rodrigues
Perante mil sargentos das Fôrças Armadas e Auxiliares, o Sr. João Goulart, em violento discurso, pronunciado na noite de segunda, tornou irreversível sua posição de esquerda e desencadeou, graças a essa definição, feita em têrmos candentes, a movimentação das fôrças que o derrubaram. Consideraram os chefes da revolta que, transigir mais com a posição ostensiva do Sr. Goulart, seria decretar a morte da democracia.
O discurso de Jango, a 30 de março, foi o comêço do fim.
Ênfase de Jango: ato final
NA OPINIÃO unânime dos chefes da "Revolução Libertadora pela Democracia", a reunião a que compareceu o Sr. João Goulart na noite de segunda-feira, quando acesas estavam ainda as paixões ocasionadas pela rebelião dos marinheiros, foi a gôta d'água que fêz transbordar o copo. E que houve nessa reunião?
Há alguns meses a Associação dos Subtenentes e Sargentos da Polícia Militar do Ministério da Justiça (a que optou pelo serviço federal) convidara o Sr. João Goulart para se fazer presente à festa do 40.º aniversário da entidade, convite êste adiado, a pedido do próprio Sr. Goulart, para outra oportunidade.
Sentindo, porém, o Presidente, que se avolumavam as críticas contra a sua orientação julgada "quebrantadora da hierarquia e disciplina militares", principalmente no caso dos marinheiros chefiados pelo Cabo José Anselmo, quis dar uma demonstração de força e prestígio junto aos escalões menores das Fôrças Armadas, aceitando a homenagem que lhe seria prestada pelos subalternos sediados na Guanabara, que aceitavam a sua orientação.
A reunião da ASSPM realizou-se, portanto, com oradores inflamados e com discursos que repisaram, invariàvelmente, a mesma tecla: reformas. E reformas nas próprias Fôrças Armadas.
Chegou mesmo a ser vaiado o Sarg. Ciro Vogt, um dos oradores, que se atreveu a fazer reivindicações e agradecer ao Sr. Goulart benefícios prestados à classe dos sargentos.
Foi vaiado porque, conforme declarou, respeitava os regulamentos disciplinares e se sentia impedido de fazer declarações políticas.
O discurso do Sr. João Goulart nessa reunião, realizada no Automóvel Clube, foi considerado pelos observadores como o mais violento de sua carreira, acusando seus adversários de subsidiados pelo estrangeiro e prometendo as devidas "represálias do povo".
A exaltação do ambiente, carregada ainda mais pela presença de agitadores comunistas, atingiu o auge quando da chegada do Almirante Cândido Aragão e do Cabo José Anselmo, tendo-se ambos abraçado sob os aplausos gerais. Anselmo quis falar à fôrça na reunião, só sendo impedido por interferência direta do Gabinete Militar de Goulart.
Os chefes militares avaliaram a repercussão de uma reunião como essa, em que a hierarquia cedeu lugar a uma indisciplinada confraternização, e decidiram deflagrar a revolta. O discurso de Jango fôra o último pronunciado como Presidente.
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Saber ganhar
AGORA, êles sabem que a sua espada não é de pau, meu velho Capitão, e eu volto o pensamento até aquêle quarto da casa paulista, onde as suas mãos trêmulas escreviam a história dêste país, dizendo-me: "Péter plus haut que son cul".
Deputado João Calmon, quando você, na sua admirável teimosia, recusava todo e qualquer acôrdo e desfraldava a bandeira suicida. Se teríamos que morrer vergonhosamente amanhã, que morrêssemos com honra, hoje. AGORA, êles sabem que as suas palavras não eram simples filigranas verbais, Governador Carlos Lacerda, homem afirmativo, líder másculo, democrata autêntico, brasileiro enlouquecido de amor à sua Pátria - e que se desesperava ao vê-la conduzida ao curral das nações arrebanhadas. Meses a fio, exposto na primeira linha, combatente de vanguarda, sabendo que a cada esquina um nôvo perigo o esperava, você, meu bravo companheiro, só teve um guarda-costas: Deus. O capanga divino, que com a sua infinita sabedoria enguiçava o carro do Faz-Tudo, iluminava o espírito dos coronéis, cobria de lucidez a decisão dos pára-quedistas, evitara a sua eliminação, o caminho aberto, supunham êles, para a fácil conquista de um resto de Pátria. Mas êles estavam enganados, sempre estiveram enganados, continuam enganados. Nenhum de nós era essencial, qualquer de nós, bem ou mal, seria substituído, mesmo você, grande e insubstituível Carlos Lacerda. Não se matam idéias. AGORA, êles sabem que a sua intransigência democrática, jovem Adhemar de Barros, môço governador de uma terra indomável, agora êles sabem que a fé o rejuvenesceu, o espírito de luta o retemperou, e você, môço Adhemar, sejam quais forem os erros do passado, a todos redimiu na bravura de sua última jornada. Mil vêzes você, com todos os pecados, Adhemar, diabo velho! Mil vêzes você que aquêle falso honrado, Jânio Quadros, até agora escondido debaixo da cama, à espera de que a última cidadela se renda, que o último homem se defina. Ah, tivéssemos nós ensarilhado as armas, tivéssemos nós tido piedade dos canalhas, tivéssemos nós permitido com o nosso silêncio que êles voltassem - e quem se encontraria, agora, no govêrno de São Paulo? A cachaça cívica, o fauno de Adelaide, o entreguista Jânio Quadros, responsável primeiro pela guinada do Brasil para o Oriente, aliado dos comunistas, traidor de sua Pátria. Graças a Deus, à Providência de que nos fala Adhemar, como o instrumento divino, foi buscar no museu dos canastrões, o canastrão maior - você, velho, passado, cansado, desonrado, reabilitado, contestado, enquartejado, encarcerado, processado, libertado, envergonhado, ressuscitado, reabilitado - e agora numa demais exaltado Adhemar de Barros. A História, se alguma verdade houve no balanço dos seus erros, a História o passou por seu banheiro carrapaticida. E o futuro o julgará pela importância de sua luta na redemocratização de sua Pátria. AGORA, êles sabem que a sua coragem não se conta pelos fios de cabelo, ó indecifrável Magalhães Pinto, mineiro silencioso, patriota humilde, general sem farda de um dos movimentos mais perfeitos da história revolucionária. O Brasil nunca se esquecerá que o primeiro grito foi seu, o primeiro gesto de um ballet inesquecível, o primeiro passo da longa marcha democrática. AGORA êles sabem que os três anos de silêncio do General Mourão não significavam três anos de capitulação, mas três anos de conspiração, três anos de prudência, três anos de silêncio - para o grande despertar da nacionalidade. Alguns generais que pareciam anestesiados - hoje o sabemos - estavam apenas de vigília. Luiz Guedes, Castello Branco, Costa e Silva, Décio Escobar, Correia de Melo, tantos generais, tantos brigadeiros, tantos almirantes jurados na intransigente defesa da democracia brasileira. AGORA, êles sabem que aquelas medalhas exibidas pelo General Amaury Kruel não eram de lata nem foram conquistadas noutro campo que não fosse o de honra. Êles sabem, meu bravo Kruel, que, acima de sua fidelidade a um homem, você colocava a lealdade à sua Pátria ameaçada por um bando de canibais políticos. SABÍAMOS, todos que estávamos na lista negra dos apátridas - que se êles consumassem os seus planos, seríamos mortos. Sôbre os democratas brasileiros não pairava a mais leve esperança, se vencidos. Uma razzia de sangue, vermelha como êles, atravessaria o Brasil de ponta a ponta, liquidando os últimos soldados da democracia, os últimos paisanos da liberdade. Onde estaria Carlos Lacerda a esta hora? Onde estariam Adhemar, Calmon, Armando Falcão, Castello Branco, Mourão, Gustavo Borges, Anísio Rocha, Alkimin, Magalhães Pinto, Ney Braga, Costa e Silva, Décio Escobar, tantas, tantas vozes e tantas espadas que não se calaram, não se embainharam em todos êsses longos meses da comunização do Brasil? Se outros fôssem os vencedores, não haveria contemplação. A VIRTUDE da democracia está em saber ganhar. Em seu nome, em nome da Democracia, não se pode permitir que a injustiça se pratique em nome da Justiça, que sejam anulados, sem processo legal, os mandatos populares, que a Constituição seja rasgada em nome da Constituição. TODOS sabem o desprêzo vegetariano que voto a certos homens fistulizados que compunham o cerne dêsse Govêrno que caiu. Mas - advertiu na sua cristalinidade política o próprio Governador da Guanabara - um democrata autêntico não odeia um homem, odeia uma idéia. Odeia, não a figura ridícula de um Ministro comendo feijoada e bebericando enquanto a lama corria sob os pés de um regime vilipendiado. Odeia, não os gestos febris de um adolescente político saído de uma taba espiritual para a Casa Civil da Presidência. Odeia, não aquelas figuras tenebrosas do CGT, aquêles pobres moços ensandecidos da UNE, aquêles sargentos equivocados, mas tudo o que a idéia que êles defendiam, honesta ou estùpidamente, representava. NÃO é porque eram criminosos, que em criminosos vamos nos transformar. Não é porque representavam o totalitarismo, a radicalização, o que de mais vergonhoso, mais sórdido, mais brutal e mais brasileiro pudesse existir no Brasil que devemos nós, os democratas, pedir-lhes as armas e as usar com a mesma ausência de liberalidade democrática. O que nos diferencia dêles é justamente isto. O mesmo que diferencia a carniça que êles são do abutre que não somos. NÃO significa que os criminosos não devam ser punidos nem os responsáveis irresponsabilizados. Significa que cada um pague pelo que fêz, não pelo que foi. Ninguém tem culpa de ter sido Ministro de um Govêrno legalmente eleito, constitucionalmente organizado. Ninguém tem culpa de ter sido Ministro de João Goulart, nem mesmo o Senhor Abelardo Jurema. O QUE me enoja não é ver os ratos fugirem do navio que se afunda, mas aquêles que ontem lhes comiam a comida, ajudar a matá-los. PARTE o Senhor João Goulart para Pôrto Alegre, para o Uruguai, para a Espanha, sem o meu ódio. Nunca consegui odiá-lo — e até hoje —- permita-se a um adversário de suas idéias e de seus métodos confessar após o crepúsculo de um deus que tinha os pés de barro — não o consigo odiar. Vejo-o ainda, no seu pequeno trono do Alvorada, como um pobre homem, incapaz de governar, de distinguir amigos de aproveitadores, inimigos de oponentes. CAIU porque em seu espírito engarrafado pela mediocridade mais positiva dêste País, nunca deixou de existir o estancieiro que contava os aliados como quem conta o gado no curral. CAIU porque acreditou que aquêles que lhe faziam planos de continuísmo, acenando com o poder sindical, com o dispositivo militar, acreditavam no que diziam. E lutariam por tudo aquilo que o Senhor João Goulart acreditava. Mas o Senhor João Goulart não acreditava realmente em nada. A não ser na sua boa estrêla, que era a estrêla vermelha. RECUSO-ME a pisar sôbre os cadáveres morais dêsses homens sôbre os quais, com o risco da própria vida, dentro das limitações que me eram impostas por uma organização que êles ameaçavam destroçar, tantas vêzes caminhei pela estrada que nos conduzia ao imprevisto de um fim melancólico ou de uma liberdade sonhada. NÃO será em nome dessa liberdade conquistada que iremos tripudiar sôbre os vencidos. Aquêles que eram comunistas, continuarão a sê-lo, talvez com menos esperança. Aquêles que eram os pobres enganados dessa República — talvez abram os olhos, os vencedores não procederem com a mesma fúria, o mesmo despotismo, a mesma insensibilidade daqueles que nem por isto deixaram de ser brasileiros e possivelmente democratas equivocados. A compreensão e a justiça talvez os ajudem a abrir os olhos. WILSON FIGUEIREDO conta que, em plena ocupação do velho órgão da Condêssa, um fuzileiro pediu para telefonar para a mulher a quem não via há três dias de longa e sofrida prontidão. Não apenas deixaram o invasor telefonar, mas serviram um cafezinho bem brasileiro. Nesse momento, também, o Brasil estava voltando a ser brasileiro. POIS é esse cafezinho brasileiro que devemos servir aos que erraram por acreditar demais ou erraram por acreditar de menos. Respeitemos as suas famílias, as suas idéias falsas, e apuremos apenas os seus possíveis crimes. A menos que voltem a ser inimigos, a se constituírem em vírus vivos —- os inimigos vencidos deixam de ter nomes. |
Depoimentos de Magalhães, Adhemar, Lacerda e Juscelino sôbre a vitória da Revolução MAGALHÃES
O Governador Magalhães Pinto, de Minas Gerais, liderou o grande movimento político-militar em defesa do regime democrático.
Sem perder a serenidade um só momento, o dirigente udenista manteve o clima emocional, a união de Minas e a decisão de conquistar a vitória.
Quando ela foi conquistada, declarou com exclusividade para "O Cruzeiro":
ADHEMAR
O Governador Adhemar de Barros em entrevista exclusiva cedida a "O Cruzeiro" – a primeira desde a eclosão do movimento armado contra o govêrno do Sr. João Goulart –, disse que dará combate sem trégua aos comunistas, caçando-os onde estiverem, em qualquer ponto do território nacional. Visìvelmente eufórico, apesar do cansaço de muitas horas sem dormir, o Sr. Adhemar de Barros começou dizendo que o movimento revolucionário por êle comandado em São Paulo começou na noite de 31 de março de março, "para valer". – Quando vocês todos estavam dormindo, sonhando com a liberdade, nós já mandávamos os primeiros comunistas para a Casa de Detenção. E frisou: – Mas à velha Casa de Detenção, pois não têm mais direito nem à cadeia nova. "A Polícia de São Paulo" – continuou – "agiu com absoluta segurança, colaborando com o General Amaury Kruel, que desde o início estava integrado no nosso esquema de libertação nacional. Naquela altura, eu e mais seis governadores de Estado (Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Guanabara, Mato Grosso e Paraná) já tínhamos pronto o decreto de beligerância que iria instaurar o primeiro govêrno brasileiro. Eu próprio redigi o manifesto que ainda se encontra em meu poder. Queria com isso comunicar ao Mundo que no Brasil ainda havia líderes realmente democratas que não toleram o jôgo vermelho. "O Brasil retornará agora à sua política internacional de apoio incondicional ao Ocidente. À sua política de livre iniciativa. Abandonamos o tripé instalado pelo Goulart. Tripé apoiado em órgãos espúrios como CGT, UNE, PAC, PUA e outros. No govêrno dele mandavam os pelegos, os estudantes vermelhos, os camponeses doutrinados e os escravos de Moscou. "Agora, caçaremos os comunistas por todos os lados do País. Mandaremos mais de 2 000 agentes comunistas – numa verdadeira Arca de Noé – para uma viagem de turismo à Rússia. Mas uma viagem que não terá volta. Que falem em democracia, agora, na Rússia. "Não deporemos armas enquanto não expulsarmos tôda a canalha vermelha. Caçaremos os mandatos de todos os parlamentares, governadores e prefeitos comunistas. Não mais permitiremos a infiltração no nosso meio, pois não podemos nos reerguer enquanto tivermos comunistas em nossos alicerces. Não aceito acôrdo de espécie alguma com comunistas. "Êles jamais quiseram reforma de base. O que êles queriam era fazer delas escudo para a reforma da Constituição. Mas nós não o permitimos. Agora terminou tudo. O Presidente Mazzilli vai revogar todos os decretos espúrios (SUPRA, aluguéis, encampações etc.). A SUPRA é uma entidade comunista. "Nós começamos em 60 muito mal (refere-se a Jânio) mas, graças à Virgem Maria, dois jotas nós já conseguimos derrotar. Agora só falta o terceiro (JK), que sempre foi o principal conselheiro de Jango. Quando êste procurava o caminho democrático, êle colocava lenha na fogueira. Os três jotas estavam unidos para derrotar a Democracia. "Voltamos ao poder para pacificar. Não quero nada. Apenas a democracia autêntica, sem receber ordens de Moscou. "Vamos começar imediatamente o expurgo dos comunistas. Darcy Ribeiro, Jurema, Valdir Pires, Ryff, Pinheiro Neto, Eloy Dutra e outros canalhas." Finalizando disse: "Goulart bolchevizou a família brasileira. Mandou mais de 11 mil estudantes paulistas fazerem cursos comunistas na Rússia. Agora, vou mandar os comunistas falar em liberdade em Moscou".
LACERDA
Antes, durante e depois da crise, o Governador Lacerda estêve no centro dos acontecimentos.
E, como é de seu feitio, pronunciou-se diversas vêzes com a maior veemência.
Na tarde do dia 1º de abril, anunciando ao povo a vitória das fôrças comandadas pelo General Olímpio Mourão Filho, o Governador da Guanabara fêz declarações através do rádio, declarações que constituem verdadeira súmula do que êle dissera até então.
"De herdeiro de alguns hectares de terra, transformou-se, em poucos anos, em proprietário de mais de 550 mil hectares – uma área igual a quatro vêzes e meia o território da Guanabara." E prosseguiu: "Associado do Sr. Wilson Fadul (que por isso foi ser Ministro da Saúde, e não porque seja um cientista), em quatro anos, com dinheiro do Banco do Brasil, e com dinheiro cuja origem não explica, o Sr. João Goulart transformou-se num dos homens mais ricos dêste País, com três bois por hectare em suas fazendas". "O Sr. João Goulart é um leviano que nunca estudou – e não estudou porque não quis, não é porque não pôde. E agora, no Govêrno do País, queria levar-nos ao comunismo." Explicando que discordara da investidura do Sr. João Goulart na Presidência da República, mas terminara aceitando-a, disse o Governador Lacerda: "Eu o conhecia bem. Mas, como bom democrata, submeti-me à vontade da maioria, quando entrou em vigor a fórmula do Parlamentarismo. Mas o Sr. João Goulart não queria governar. Adulava, de dia, os trabalhadores que condenava ao desemprêgo, de noite. O Sr. João Goulart jurou fidelidade ao Parlamentarismo, para logo em seguida impor o plebiscito, e todo o povo votou. Eu não votei porque achava que o plebiscito era uma palhaçada, e repito que era". "Quem quiser fazer reformas deve ter a honestidade de dizer que as fará sem reformar a Constituição. Há necessidades de se fazer reformas, e eu acho que se pode fazer isso sem se mexer na Constituição. Mas o Sr. João Goulart não queria isso. Montou um dispositivo sindical nos moldes fascistas, com dinheiro do Ministério do Trabalho, dinheiro roubado do impôsto sindical, roubado do salário dos trabalhadores, para pagar as manifestações de banderinhas e as farras dos homens do Ministério do Trabalho." "Ao mesmo tempo, começou a criar dificuldades para a Imprensa, para os jornais, para o rádio e a televisão, iniciando um processo de escravização dos homens livres que fazem a imprensa do nosso País. Depois de criar as dificuldades, o Sr. João Goulart oferecia-se para resolvê-las, enquanto dava curso ao processo de entreguismo do Brasil à Rússia. O Sr. João Goulart foi o maior entreguista que já teve êste país." Continuando seu discurso, acusou o ex-Presidente Goulart de iniciar o solapamento da autoridade militar, entregando os comandos militares a gente sem prestígio nas Fôrças Armadas. "O desprestígio" – disse Lacerda – "atingiu a todos os setores do Govêrno, os Ministérios Civis e a própria Casa Civil da Presidência, onde estava Darcy Ribeiro, um instrutor de tupi-guarani, que acabou reitor da Universidade de Brasília sem jamais ter sido professor". Dizendo que os brasileiros honrados que votaram em João Goulart não tinham dado seu voto ao comunismo ("portanto Jango enganou o povo"), Lacerda fêz referências elogiosas aos Generais Castelo Branco e Mourão Filho, atacando em seguida o Almirante Aragão ("sem condições para ser almirante"), e aludindo ao Cabo José Anselmo: "A Marinha é tão ruim que um cabo pode ser estudante de Direito. Em nenhuma Marinha do Mundo, nem nos Estados Unidos, nem na Rússia – um cabo tem tempo para estudar Direito. E o Sr. João Goulart acobertou, patrocinou, estimulou tôda essa gente, jogando marinheiro contra soldado, farda contra farda, classe contra classe, brasileiro contra brasileiro". "Assim, não era possível que Marinha, Aeronáutica e Exército suportassem mais tamanha impostura e tamanha carga de traição. " E concluiu: "Deus é bom. Deus teve pena do povo".
JUSCELINO
A palavra do líder que estêve, também, no centro dos últimos acontecimentos é decisiva para o desarmamento dos espíritos, agora que o País volta à paz e ao trabalho. É com o pensamento voltado para Deus, grato à sua proteção ao Brasil e ao seu povo, que saúdo a nossa gente pela restauração da paz, com legalidade, com disciplina e com a hierarquia restauradas nas Fôrças Armadas. No auge da crise, quando era próxima a possibilidade de derramamento do generoso sangue brasileiro, o apêlo à paz, com legalidade, disciplina e hierarquia, tinha de ser ouvido. E foi ouvido. A paz está mantida. A legalidade engrandecida. A disciplina e a hierarquia rejuvenescidas. Mas do que nunca o Brasil precisa de paz: nos espíritos e nos corações. A mente clara, para pensar sem ódios e sem rancores. A convalescença terá de ser curta, sem radicalizações e sem ressentimento. Não manteremos a paz da Democracia representativa com sentimentos de vingança e rancores condenáveis. A hora é de grandeza democrática. De grandeza da própria Democracia. De volta à rota do progresso pela criação da riqueza e da multiplicação das oportunidades de viver melhor. Sem progresso não haverá liberdade para alcançar a justa distribuição da riqueza. Continuaremos a socializar o escasso. A paz não exclui, todavia, a vigilância democrática. O perigo comunista não estava, como se viu, no comportamento do povo e dos trabalhadores, ordeiros e democratas. O perigo comunista estava na infiltração em comandos administrativos. A vigilância democrática não significa, porém, a oficialização em qualquer ponto do território nacional do liberticídio, do desrespeito às liberdades individuais e associativas. E muito menos daquelas liberdades que mais de perto se relacionam com as aspirações populares e com os direitos associativos, com os sindicatos libertados de influências políticas de cúpula. A legalidade é anticomunista, mas não é antipopular. A legalidade democrática deverá estar aberta, em todos os seus canais de comunicação, ao livre curso dos debates. A legalidade democrática abre também a possibilidade de recolocar o problema das reformas de base. As reformas realmente democráticas, dentro da ordem social e econômica. Reformas que elevem o padrão de vida do povo, nos campos e nas cidades, significando socialização da riqueza, com a preservação integral do princípio da propriedade privada, que cumpre estender e generalizar, dando prioridade aos que nada possuem. Não temos dúvida em afirmar que a Democracia só será consolidada e enriquecida com a conquista permanente da devoção popular. A legalidade democrática nos conduzirá às eleições. Será a continuidade do regime, já restaurado com a posse, pelo Congresso, do meu eminente companheiro de partido, o Presidente Ranieri Mazzilli. O ritual democrático está firme. É preciso, agora, que os fins que êle simboliza sejam realizados pela ação dos brasileiros lúcidos e tolerantes. O Brasil das reformas é o Brasil democrático, contra privilégios e contra extremismos. É o Brasil sem frustrações. Esperançoso, rico e mais justo. |
Magalhães, o herói da Revolução
Reportagem de Oswaldo Amorim, Luiz Alfredo e José Nicolau
ARTICULADOR e iniciador do movimento que culminou com o afastamento do Presidente. João Goulart, o Governador Magalhães Pinto foi aclamado em Minas como o grande herói da insurreição vitoriosa e calorosamente festejada em todo o Estado.
Contando com a decidida colaboração das tropas do Exército sediadas em Minas, além dos 18 mil homens da Fôrça Pública do Estado e de total apoio popular, o Governador Magalhães Pinto iniciou a história arrancada pelas liberdades democráticas com um vigoroso manifesto, em que afirmou terem sido inúteis tôdas as advertências contra a radicalização de posições e atitudes e contra a diluição do princípio federativo.
A eficiente articulação empreendida, que garantiu a adesão de elementos decisivos, e a rapidez e ação foram preciosos para a fulminante vitória das fôrças democráticas.
Durante todo o desenrolar da crise, o Sr. Magalhães Pinto permaneceu no Palácio da Liberdade, cercado pelo seu "staff" e em permanente contato com os Generais Carlos Luís Guedes.
Comandante da ID-4 (sediada em Belo Horizonte) e Olímpio Mourão Filho, Comandante da 4.ª Região Militar (Juiz de Fora) e fazendo ligações para outros chefes militares e vários Governadores de Estado.
Somente saiu, no dia 1.º, para visitar os quartéis do 12.º RI e da Polícia Militar, o Destacamento de Base Aérea (único núcleo rebelado da FAB) e o Centro de Recrutamento de Voluntários, acompanhados do Cel. José Geraldo de Oliveira, comandante da Polícia Militar, Cel. José Guilherme, chefe do Gabinete Militar (ambos foram peças importantes do movimente que eclodiu em Minas e se alastrou no País) e dos Senadores Milton Campos e Afonso Arinos — nomeados secretários sem Pasta do govêrno mineiro.
A vitória final, vibrantemente festejada pelo povo de Minas, teve no tranqüilo e decidido Governador Magalhães Pinto o seu grande comandante e maior alvo das manifestações populares em todo o País.
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São Paulo em guerra pela liberdade
Reportagem do "Bureau" de "O CRUZEIRO" em São Paulo
Batalha da CTB acabou sem disparar um tiro
A Companhia Telefônica Brasileira foi ponto de uma pequena guerra particular.
Trinta e dois homens estavam lá dentro.
Os policiais se dispõem a invadir o prédio.
Quando o conseguem, Nelson Gatto, a quem procuravam, tinha desaparecido.
Antes, porém, houve isolamento da área, pedidos de jornalistas aos policiais superarmados em favor de Nelson Gatto, que é também jornalista, e tudo acabou sem que um tiro sequer fosse disparado. A CTB foi dominada.
Ruas interditadas protegeram os democratas
O problema dos transportes teve duas faces, durante a crise em São Paulo. De um lado, várias ruas da cidade foram interditadas ao trânsito, principalmente aquelas que davam acesso ou passavam bem próximas a lugares considerados de importância militar, como o Quartel General do II Exército e a Secretaria de Segurança Pública.
De outro lado, porém, meios mais rápidos de transporte foram utilizados para a movimentação das tropas, que tinham de atingir pontos estratégicos com rapidez, a fim de ganhar eficiência na operação de guerra.
Tudo foi cumprido dentro de um plano rígido de segurança e de bom rendimento tático.
São Paulo viveu, assim, horas de guerra, ainda que não resultassem os movimentos e as medidas em nenhum choque verdadeiramente sangrento.
O que havia de realmente desejado era que o País retornasse aos caminhos da Democracia e da paz. Isto foi conseguido.
Vitória da Democracia foi festa de todo o povo de São Paulo
As horas de angustiante expectativa, quando as notícias mais desencontradas eram ouvidas pelo povo paulista, terminaram em festa, com a notícia muita certa da vitória das fôrças democráticas.
O Governador Adhemar de Barros, que se mantivera sem descanso, sorriu satisfeito: a vitória da Democracia era, de certo modo, um pouco a sua vitória.
Êle se pusera, desde o início, na posição de um batalhador irredutível de sua causa e São Paulo marchou coeso com êle, atendendo à sua palavra inflamada e patriótica.
Nas ruas, à hora final, o povo esteve presente, comemorando com papéis picados atirados do alto dos edifícios.
De cada janela, pulava um coração paulistano ao mesmo compasso da alegria de todos os corações brasileiros que desejavam o retorno do País à ordem.
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A batalha do Guanabara
Fotos de Antônio Rudge
Durante um dia e uma noite, o Palácio da Guanabara e o Governador Carlos Lacerda foram nomes que representaram a resistência democrática na chamada "capital cultural e política" do País.
Ninguém pregou ôlho.
As horas transcorreram em regime de sentinela bem acordada, até que a vitória se desenhasse no céu do Rio.
Os tanques do Exército estavam no Largo do Machado.
No Palácio da Guanabara, o Governador Carlos Lacerda se mantinha em calma e em expectativa.
Todo o secretariado presente.
Eram 18,30 h do dia 31 de março.
O feriado escolar, depois de estudado, teve sua decretação feita às 23 horas. Cêrca de 300 oficiais das diversas armas se dirigiram para o Guanabara, a fim de solidarizar-se com o Governador. Meia-noite: sabe-se do movimento de tropas de São Paulo em direção ao Rio de Janeiro. Junto à Igreja, um foguete (antitanque) é montado em longarinas de asa de avião. Aos 5 minutos chega o Senador Artur Bernardes Filho.
O Governador se mantém em vigília e fala com o Jornalista Jules Dubois, de Miami, Estados Unidos, e dá a notícia da adesão do Rio Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo.
Lacerda sai aos 35 minutos, acompanhado apenas pelo general Mandim, responsável pela segurança de Palácio, e inspeciona, até aos 55 minutos, os arredores.
A uma hora da manhã, começaram a cortar os telefones da linha 25, que serve ao Guanabara, mas continuaram a funcionar três da linha 45,que passaram a ser utilizados pelo Governador.
Às 2,45 h, corre em Palácio a notícia de que os fuzileiros navais iriam atacar.
A expectativa prossegue até às 5 horas, quando entram mais 30 generais do Exército.
Às 6,30h, nova notícia promoveu atitude semelhante, logo relaxada por saber-se que se tratava de um rebate falso.
O dia 1° de abril estava claro. Às 7,55h, o Governador Carlos Lacerda recebe o Manifesto dos Generais, que iria ser lido após o hasteamento da Bandeira Nacional, às 8 horas, através da Rádio Inconfidência, de Minas Gerais.
Às 8,30 h, Juracy Magalhães entra em Palácio e conferencia com Carlos Lacerda.
Às 10,45h, o presidente do Tribunal de Justiça, Dr. Vicente Faria Coelho, chega e conferencia com o Chefe do Executivo. Às 13,15h, entra em Palácio o Sr. Armando Falcão.
As notícias se aceleram.
Às 16 horas, há o momento de maior emoção para o Governador Carlos Lacerda: tanques do Exército, que se encontravam no Palácio das Laranjeiras, estão agora guarnecendo o Palácio da Guanabara.
O Chefe o Executivo carioca, ao ouvir a notícia, chora e exclama:
- Graças a Deus! Deus está conosco!
O carnaval da vitória
Foi uma reação em cadeia.
Anunciada a viagem do Presidente a Brasília e a vitória das fôrças revolucionárias, milhares de pessoas saíam às ruas, gritando, pulando, discursando tamém, num verdadeiro carnaval.
Grupos mais exaltados e tomados de fúria incendiaram o prédio da UNE, na Praia do Flamengo, quando os dirigentes comunistas da entidade já haviam desaparecido e abandonado a sua trincheira.
Os mesmos grupos depredaram e incendiaram a "Ultima Hora", na Praça da Bandeira.
Isso foi um pouco de vingança e excesso condenável, pois a massa, o povo carioca, queria apenas viver aquelas horas de vitória e não vingar-se daqueles que tinham sido vencidos.
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