Em painel sobre a crise dos Brics, ministro da Fazenda volta a responsabilizar EUA e Europa pela desaceleração dos emergentes
Ana Clara Costa, de Davos
Guido Mantega durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos (EFE)
O ministro Guido Mantega deslocou-se até a cidade de Davos, onde ocorre o Fórum Econômico Mundial, em teoria, para "vender" um Brasil que os investidores se interessem em comprar. Em sua primeira atividade na estação de esqui suíça, Mantega compareceu a um painel intitulado "Brics em crise da meia idade?", onde dividiu o palco com os ministros das Finanças da Índia, da África do Sul, da Rússia e com o acadêmico chinês Liu Mingkang, membros do bloco surgido a partir do acrônimo do economista Jim O'Neill, ex-vice-presidente do Goldman Sachs. O objetivo do painel era discutir as razões que levaram os Brics à desaceleração. Contudo, o ministro, que falou pouco, atribuiu toda a culpa aos países desenvolvidos que deram origem à crise financeira de 2008. "Não acho que há uma crise dos Brics. Há, sim, uma crise mundial que fez com que a demanda diminuísse. Agora, os países que causaram a crise estão em recuperação e, com isso, voltará a crescer o comércio mundial", disse o ministro.
Ao comentar a afirmação do acadêmico chinês sobre a mudança do modelo econômico da segunda maior economia mundial, Mantega elogiou a nova política baseada no estímulo à demanda interna - e afirmou que a China não lhe faz perder o sono. Ao falar sobre a desaceleração da economia brasileira, o ministro lançou mão do otimismo que lhe é peculiar e afirmou que o Brasil crescerá escorado na recuperação da economia mundial, que o mercado interno é avançado, que houve diminuição da pobreza e o país se tornou o quarto maior mercado de automóveis do mundo. "Só que é o investimento que vai puxar a economia daqui para frente", afirmou Mantega, listando as concessões que foram feitas nos últimos anos e frisando que se trata de uma parceria entre Estado e setor privado (não uma privatização).
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Quando perguntado pelo moderador, o jornalista Silio Boccanera, sobre o gasto do dinheiro público nos estádios da Copa de Mundo, Mantega afirmou que o governo "apenas emprestou" dinheiro para que as empresas privadas construíssem os empreendimentos. E os empréstimos foram feitos, segundo ele, "porque o povo brasileiro gosta de futebol". Quando o painel abriu para perguntas, nenhuma foi direcionada ao Brasil. Na plateia, estavam presentes nomes proeminentes da economia do país, como a presidente da Petrobras, Graça Foster, que foi criticada por participantes estrangeiros por furar fila na hora de entrar no debate, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabucco, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, e os irmãos Bernardo e Miguel Gradin. O ministro Mantega foi o único a falar em português -- todos os demais escolheram o inglês.
Os pontos altos do debate foram conduzidos pelos representantes da China, Índia e África do Sul. Liu Mingkang respondeu com clareza a uma pergunta "tabu": a reforma política que implantará o voto direto, que, segundo ele, ocorrerá depois da reforma econômica que está em curso. O acadêmico também afirmou que a China extinguiu seus campos de trabalho forçado e falou sobre a necessidade de respeitar os direitos humanos. Já o ministro indiano Palaniappan Chidambaram rebateu com argumentos as críticas sobre o intervencionismo do Estado na economia de seu país, afirmando que não é possível desmantelar o poder estatal do dia para a noite. Ele ainda disse que se uma empresa estatal indiana for conduzida com a mesma gestão dinâmica vista no setor privado, não há porque ser extinta.
Por fim, o ministro sul-africano Pravin Gordhan encerrou o debate questionando a própria razão de estar ali. Gordhan afirmou que num mundo globalizado, onde as nações estão cada vez mais interligadas, mecanismos multilaterais são ferramentas sem sentido. Exemplo disso foi a crise, disse ele, que afetou todas as nações, independentemente do acrônimo. Segundo ele, há uma "moda" em criar o acrônimo da vez, enquanto, na realidade, os países precisam pensar em investimento global, não em apenas um grupo de países.
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