Embora pudesse ser superada por um papagaio treinado, a baleia-branca NOC (lê-se “nou sii”) conseguia fazer algo que a maioria de suas colegas era incapaz: imitar sons humanos.
Capturada em 1977, NOC fez parte do Programa de Mamíferos Marinhos da Marinha em San Diego (EUA), que estudava se baleias, golfinhos, focas e outros mamíferos do mar poderiam ser usados em missões de reconhecimento ou até mesmo para desativar minas aquáticas. Sete anos depois, cientistas do projeto notaram que NOC emitia sons estranhos, “como se duas pessoas estivessem conversando a distância, longe demais para serem entendidas por nós”, relataram no periódico Current Biology.
Certa vez, um mergulhador saiu do tanque de NOC porque achou que um dos colegas havia pedido. Eles concluíram que foi a própria baleia que emitiu o “pedido”, tentando imitar o som de “out” (“sair”). A partir daí, eles começaram a gravar os estranhos sons emitidos por NOC, dentro e fora d’água. “As ondas sonoras eram similares às da voz humana e diferentes daquelas normalmente emitidas pelas baleias”, conta Sam Ridgway, Presidente da Fundação Nacional de Mamíferos Marinhos dos Estados Unidos. “Os sons que ouvimos eram claramente um exemplo de aprendizado vocal”.
Além do “baleiês”
Já houve outros casos parecidos (embora raros): na década de 1940, biólogos relataram que os chamados feitos por baleias poderiam, às vezes, soar como gritos de crianças a distância. Nos anos de 1970, uma baleia-branca no Aquário de Vancouver (Canadá) se mostrou capaz de emitir sons similares aos dos idiomas chinês e russo, e até mesmo dizer o próprio nome (“Lugosi”). Contudo, foi o caso de NOC que cientistas aproveitaram para estudar como uma baleia seria capaz de emitir sons “humanos”.
Os pesquisadores de San Diego colocaram sensores de pressão no interior e logo acima da cavidade nasal de NOC, que indicaram uma variação de pressão em seu interior. Soltando ar de modo específico por seus “lábios fônicos” (cavidade no topo da cabeça), NOC conseguia simular cordas vocais humanas. “Parece que a proximidade de NOC com seres humanos teve um papel na frequência com que o animal usava sua ‘voz humana’, e na sua qualidade”, relataram os cientistas. A “mímica” durou quatro anos, até a baleia passar a emitir apenas sons comuns de sua espécie.
Em 4 de abril de 1999, NOC morreu. “Não chegamos a gravar sua melhor imitação”, conta Ridgway, mas o material coletado foi de grande valia para os pesquisadores. “Mesmo que a baleia não soubesse o que estava dizendo, e estivesse apenas imitando o que ouviu, isso deveria ser explorado mais a fundo”.
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