Novos detalhes sobre a fala de um farsante



Vamos lá. Prometi que voltaria aos “progressistas” da ESPN e volto. É aquela gente que paga pau aos esquerdistas, posa de nacionalista, faz discursinho anti-imperialista e só se comporta bem na hora de receber o rico dinheiro dos patrões norte-americanos. Hipócritas! Como sabem, o tal José Trajano, chefão da emissora no Brasil, não gostou das vaias e dos xingamentos que o público dirigiu a Dilma no jogo de abertura da Copa. Resolveu passar um carão nos torcedores, que reagiram ao pito do vovô chapa-branca (e vermelha). Ele, então, ficou ainda mais bravo e arrumou quatro culpados: Reinaldo Azevedo, Diogo Mainardi, Demétrio Magnoli e Augusto Nunes.

Sim, os que foram esculhambá-lo — por causa de sua sujeição voluntária e de seu hábito de andar de joelhos — seriam leitores desses quatro Cavaleiros do Apocalipse, que, segundo ele, incentivam o ódio e a inveja. Como? Inveja, a depender do ramo de atividade e da coisa na qual eu esteja pensando, eu poderia ter é de Flaubert, de Brad Pitt, de Churchill, até do mais desgraçado dos mendigos. De Trajano? Das outras sumidades? Deem-me uma miserável razão para isso. Vamos relembrar a sua fala, em que ele arrota a sua grande coragem.
Quando botei esse vídeo no ar, ontem, uns poucos gatos-pingados o tinham visto. Agora, já são mais de 100 mil visitas. Trajano, cuja existência eu ignorava e sobre quem, é evidente, eu jamais havia escrito uma linha, também descobriu que atacar certas pessoas rende trânsito, bochicho, audiência. Sou generoso. De vez em quando, dou uma esmola a gente como ele.

Senti, ao assistir ao vídeo, a tal vergonha alheia. Então esse banana acha que é preciso grande coragem para atacar na televisão homens PODEROSOS (???) como Reinaldo, Diogo, Demétrio e Augusto? Por quê? Qual é o nosso poder? Percebam ali o tonzinho de “ninguém vai me calar”. O trecho mais encantador de sua fala é o “não vou me vergar”. Ora, vergar-se a quem? A nós? No que me diz respeito, se um sujeito como esse se vergar diante de mim, vomito no cangote dele.

De resto, não pode mais se vergar quem vergado já está. Não a mim, é claro! Não aos outros três! Mas ao poder, a uma ideologia, às patrulhas.

Ora, alguma coragem é necessária para combater os poderosos de turno, não para fazer a genuflexão até no vocabulário. Esse cara é do tipo que chama Dilma de “presidenta”, mas diz que não se verga a Reinaldo Azevedo e a seus leitores. Nossa!!! Que valente! Quando eu tiver 50 anos a menos de reflexão, quero ser como ele. Mas, se chegar a ter 30 a mais de idade, quero ser como sou. Leia de novo, Trajano!

É preciso ser muito vigarista para criticar os que “não respeitam a opinião alheia”, atacando, em seguida, quatro pessoas que não estão presentes para se defender, que absolutamente nada tinham a ver com a questão e que não podiam, sob qualquer pretexto —  exceto o ódio, a intolerância —, ser responsabilizadas por aqueles que, exercendo seu sagrado direito de divergir, resolveram discordar da opinião de Trajano e da de seus outros “camaradas”. Ao fazê-lo, ele estava sendo… tolerante? Se nunca toquei no nome dele, se não escrevo sobre esportes, se nem mesmo o conhecia, ele me agride por quê? Ah, é que sou considerado um crítico do PT, um conservador, até mesmo um “direitista”, entendem? E o tal acha que gente assim merece ser achincalhada. Trajano cobra tolerância com os que são de sua laia para que ele possa mandar para o paredão os que não são. Pai, mãe, se vocês, ainda assim, quiserem assistir à ESPN, tirem ao menos as crianças da sala.

Bem, é um comportamento compatível com gente que sustentou ser muito justo mandar a Fifa “tomar no c…”, mas que considerou um crime de lesa-pátria dirigir tal impropério a Dilma. Também se perguntou na ESPN por que nunca ninguém mandou Paulo Maluf fazer tal coisa. Entendo! Com Maluf, então, seria justo, mas não com Dilma!!! Assim, não é que Trajano, seus pares e a ESPN considerem inadequado mandar que os outros “tomem no c…”. Só não se pode fazer isso com as pessoas erradas, com os “progressistas”. Com os “reacionários” — ainda que Maluf seja hoje um reacionário aliado ao PT —, pode. Para Trajano e sua trupe, mandar “tomar no c…” um sujeito procurado pela Interpol é aceitável. Mas fazer isso com a turma que elevou o orçamento da refinaria de Abreu e Lima de US$ 2,5 bilhões para US$ 19 bilhões é um atentado ao bom gosto, ao bom senso e à cidadania.

É o triunfo do “Paradigma Moral José Dirceu”. Assim como certas pessoas estão acima da lei, algumas outras, não importa o que façam, estão acima do palavrão. Xingar os inimigos de Trajano — ou aqueles que ele considera inimigos — é um dever cívico. Fazer o mesmo com aqueles de quem ele puxa o saco e diante dos quais se verga é um crime moral. Se acontece, ele precisa, então, arrumar culpados.

Eu sabia, meninos!

No texto anterior, afirmei que iria procurar a direção da ESPN  para saber se o braço brasileiro do grupo norte-americano endossa a avaliação de que a elite branca de São Paulo — como se acusou lá — é capaz de cometer essas coisas hediondas. Leitores às pencas escreveram para dizer que o chefão é o próprio Trajano. Caros, àquela altura, eu já sabia. Já havia feito uma rápida pesquisa na Internet. Estava apenas sendo irônico.

O companheiro esquerdista e certamente anti-imperialista não dorme do ponto, não é?, e conseguiu arrumar uma boquinha com “uzamericânu”. Não é de hoje que gente com esse perfil é boa para arrumar emprego. As respectivas direções de institutos culturais de bancos e de grandes empresas, por exemplo, estão coalhadas de esquerdistas. São, assim, uma espécie de bobos da corte, regiamente pagos para que o patrão ou tenha onde colocar o seu complexo de culpa ou possa posar de “moderno e progressista” nas colunas sociais e nas pré-estreias de filmes-cabeça.

Oswald de Andrade, que, dentro da sua loucura, tinha coerência, chamava valentes assim de “palhaços da burguesia”. No que me diz respeito, tenho mais desprezo por eles do que por qualquer maluco de uma seita ultraesquerdista que se leve a sério. Se o bicho realmente um dia pegasse no país, aqueles seriam os primeiros a se esconder, com a cueca borrada. Não, esses nem são a esquerda caviar. Faltam-lhes gosto para apreciar a iguaria e coragem para lutar por aquilo em que dizem acreditar.
O queridinho de Freixo
Na minha rápida pesquisa, quanto tomei conhecimento da existência do tal Trajano, topei com este vídeo.
Eis aí. Agora, a coisa está completa pra mim. Agora, a equação se fecha de maneira inequívoca. O deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL do Rio, o queridinho dos socialistas da Zona Sul, com vista para o mar, propôs a “Medalha Tiradentes” para Trajano. O partido que engrossa o coro em favor do controle da mídia no Brasil — sim, o PSOL também está nessa — resolveu defender a “linha editorial” “duzimperialista” porque, nesse caso, diz o guru das “socialites socialistas”, a ESPN trata das “contradições que esse mundo dos negócios, dos esportes, das paixões pode envolver”. Ah, entendi! Contamos “cuzamericânu” para nos ajudar a entender as “contradições desse mundo dos negócios”… Que bom que tenho o estômago forte!

Nos comentários, leitores me informam que a ESPN nunca foi dura o bastante com a turma do pega pra capar que está nas ruas. Todo o ódio que Trajano e seus camaradas destilaram contra os que vaiaram e xingaram Dilma nunca teria sido secretado contra black blocs e contra quem sai quebrando tudo por aí. Não sei se é verdade porque nunca vi o canal — tanto é assim que Trajano sabia da minha existência, mas eu ignorava a dele. Deve ser verdade. E isso também tem explicação, como se vê.

Não custa lembrar que Freixo é o chefão do PSOL no Rio, partido que comanda, por exemplo, os sindicatos de professores das redes estadual e municipal, que não viram nada demais em fazer uma parceria explícita, admitida em nota oficial, com os black blocs. Como esquecer que a notória Sininho, ora indiciada pela polícia, foi oferecer um advogado a um dos acusados pela morte do cinegrafista Santiago Andrade em nome de uma entidade politicamente ligada a Freixo, esse santo do pau oco do socialismo com vista para o mar?

Os outros três incluídos na baba hidrófoba de Trajano falem por si se quiserem. Falo por mim. Faz todo sentido que este senhor veja com maus olhos o meu trabalho. Gente que recebe comenda de Marcelo Freixo, dadas as suas ações recentes no Rio, não tem mesmo por que ter simpatia pelo meu trabalho. É claro que nem isso explica a sem-vergonhice que foi dita no ar.

Gente que incentiva o linchamento em nome da tolerância não é apenas contraditória. É canalha também.
Texto publicado originalmente às 4h37
Por Reinaldo Azevedo

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