Advogado de Fernando Baiano disse que no Brasil não se põe “um paralelepípedo no chão” sem propina; para juiz responsável pela Lava Jato, dizer "todos nós roubamos" é inaceitável
Em decisão que prorrogou a prisão do lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, o juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, fez uma crítica indireta ao advogado Mario de Oliveira Filho, que defende Baiano.
Na
quarta-feira, Oliveira Filho ficou nacionalmente conhecido ao dizer que não se faz
obra pública no Brasil sem pagamento de propina.
“O fechar de olhos, com
a aceitação do quadro criminoso, como se o crime fosse algo natural e
inevitável, não constitui uma escolha aceitável.
O álibi 'todos nós
roubamos', lembrando o mesmo empregado no contexto da Operação Mãos Limpas
italiana pelo então 'criminoso zero', Mário Chiesa ('tutti rubiano cosi'), não
é jurídica ou moralmente aceitável e, ademais, sequer é verdadeiro”, argumentou
o magistrado.
“Por mais que prática
criminosa da espécie tenha se espalhado pela falta de resposta institucional
adequada, é evidente que não abrange a todos, quer agentes públicos, empresas
ou demais indivíduos, e não representa o que pensa a sociedade brasileira”,
continuou o texto.
Na quarta, o advogado
disse que o pagamento de propina faz parte da “cultura” do País.
“O empresário,
porventura, faz uma composição ilícita com algum político e paga alguma coisa.
Se ele não fizer isso, e quem desconhece isso desconhece a história do País,
não tem obra.
Pode pegar uma
prefeitura do interior, uma empreiteirinha com quatro funcionários. Se ele não
fizer acerto, ele não põe um paralelepípedo no chão”, disse Oliveira Filho na
ocasião.
Prisão prorrogada
A
decisão de Moro determinou que a prisão temporária (cinco dias) de Baiano fosse
transformada em prisão preventiva (30 dias).
Segundo
depoimentos do doleiro Alberto Youssef e do ex-diretor da Petrobras Paulo
Roberto Costa, Baiano seria operador do esquema de corrupção na estatal,
cobrando propina para o PMDB – o partido e o lobista negam as acusações.
Ao justificar a
prorrogação da prisão, Moro afirmou que “grande parte do esquema criminoso
permanece ainda encoberto, sem que se tenha certeza de que todos os
responsáveis serão identificados e todo o dinheiro desviado recuperado”.
O magistrado, contudo,
pondera que “aqui não se faz crítica partidária, pois se desconhece ainda o
alcance e a duração da prática criminosa”.
Na decisão, o juiz ainda
lembrou o "bloqueio de valores milionários" em contas de empresas
administradas por Baiano – Hawk Eyes Administração de Bens, R$ 6,5 milhões; e
Technis, R$ 2 milhões –, o que indicaria “que tais contas eram utilizadas para
recebimento de valores, possivelmente indevidos”.
“Evidentemente, caso
esses valores tenham procedência lícita, em consultorias de serviços reais e lícitos,
terá o investigado condições de, com facilidade, demonstrar documentalmente o
fato a este Juízo”, completou Moro.
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