Sem recursos, neurocientista pensa em fechar laboratório e sair do Brasil
Suzana Herculano-Houzel publica estudo com potencial revolucionário em importante revista científica, mas estudos podem parar por falta de dinheiro
VOCE SABIA QUE O MINISTÉRIO DA CULTURA
APROVOU R$ 4,1 MILHÕES PARA CUSTEAR UMA TURNÊ DO CANTOR LUAN SANTANA, VIA LEI
ROUANET???
E QUE ESTA NEUROCIENTISTA - QUE UM DIA
PODE GANHAR UM NOBEL E/OU REVOLUCIONAR A CIÊNCIA VAI FECHAR SEU LABORATÓRIO POR
FALTA DE RECURSOS E DE APOIO DO GOVERNO?
AI ESTÁ O RETRATO DE UM PAIS QUE TEIMA EM
QUERER EVOLUIR E DA MANEIRA ERRADA. LAMENTÁVEL, VERGONHOSO.
SE TIVESSE GOVERNO ESTE DEVERIA ESTAR
ENVERGONHADO. MAS INFELIZMENTE NÃO EXISTE ISTO AQUI.
Suzana Herculano-Houzel: Pesquisas
fundamentais podem parar por falta de recursos - Paula Giolito/
19-08-2012 / Agência O Globo
RIO - A neurocientista Suzana
Herculano-Houzel, chefe do Laboratório de Neuroanatomia Comparada do Instituto
de Ciências Biomédicas da UFRJ, vive um paradoxo em sua carreira.
Por um lado,
ela comemora a publicação, nesta quinta-feira, junto com o físico Bruno Mota,
professor da mesma universidade, de um estudo que sugere nova explicação para a
anatomia "enrugada" do cérebro.
A pesquisa foi divulgada na
"Science", uma das principais revistas científicas do mundo. Porém,
Suzana também vive um drama.
A cientista corre o risco de ver os trabalhos no
laboratório que chefia paralisados por falta de recursos.
Segundo ela, no fim do ano passado o
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) aprovou
uma verba de R$ 50 mil - metade dos R$ 100 mil originalmente pedidos – para
financiar as pesquisas durante três anos, mas até agora só pouco mais de R$ 6
mil foram liberados.
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Além disso, dois projetos aprovados há
meses pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj)
ainda não têm previsão de quanto e quando o dinheiro será liberado.
Já os US$
600 mil que recebeu em 2010 como apoio por seis anos da Fundação James
McDonnell, dos EUA, estão sendo depositados na conta da UFRJ, o que a obriga a
enfrentar uma enorme burocracia para acessar os recursos, que agora podem até
ser bloqueados devido à crise financeira na instituição.
Por fim, diz, o CNPq
também adiou por tempo indeterminado a reabertura do edital de renovação do
financiamento para funcionamento do Instituto Nacional de Neurociência
Translacional, ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI),
do qual ela também faz parte.
- No momento, estou tirando dinheiro do
próprio bolso e “me devendo” mais de R$ 15 mil na esperança de ver algum destes
recursos liberados – conta Suzana. - É isso ou paro de trabalhar, interrompo os
projetos e a formação de pesquisadores no laboratório.
E não é por falta de
competência ou má gestão.
Temos vários projetos aprovados, mas a realidade é
que não estamos recebendo nada, o financiamento ao laboratório acabou e estou
sendo forçada a recusar alunos do Brasil e do exterior que querem fazer seu
mestrado ou doutorado aqui - explica.
"AQUI NÃO LEVAM A GENTE A
SÉRIO"
Diante desta situação, Suzana já cogita
até deixar o Brasil e continuar suas pesquisas em alguma instituição fora do
país. Credenciais para isso não lhe faltam, já que a pesquisadora foi
responsável por algumas das mais importantes descobertas recentes no estudo
comparativo do cérebro humano com os de outros mamíferos e sua ligação com a
cognição, publicadas em periódicos científicos internacionais de grande
impacto.
É dela, por exemplo, a constatação de que o número de neurônios em
nosso cérebro chega a 86 bilhões, menos do que as estimativas anteriores de
cerca de 100 bilhões, mas, destes, 16 bilhões estão no córtex, número bem
superior, por exemplo, aos 6 bilhões de neurônios corticais dos elefantes, cujo
cérebro no total soma quase 250 bilhões destas células, ou três vezes mais do
que nos seres humanos.
- A vontade cada vez maior é ir embora
do país, pois aqui não levam a gente a sério – reclama. - Temos reconhecimento
internacional, como mostra esta publicação na “Science”, mas nenhum dinheiro.
Como a ciência não dá resultados imediatos e/ou facilmente visíveis, a primeira
coisa que fazem em momentos de crise como este é cortar nosso financiamento.
Isto sem sequer entrar no mérito de aprovarem menos recursos do que os
necessários para os projetos, como no caso do que temos com o CNPq, e mesmo
assim quererem a mesma produção e resultados.
Só aí já começa a “mágica” que
temos que fazer para trabalhar aqui no Brasil.
Os pesquisadores brasileiros
aprendem a enfrentar condições tão impossíveis aqui que quando chegam em um
laboratório com boas condições no exterior sua produção é extraordinária.
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