Atividade desaba 10,9% em setembro, considerado o Natal do setor
Pesquisa Industrial Mensal mostrou que a atividade da indústria em setembro caiu 10,9% ante o mesmo mês de 2014 - Pedro Kirilos / Agência O Globo
RIO - A recessão na indústria, que se iniciou em 2014 com retração
de 3,3% em relação ao ano anterior, só deve chegar ao fim em 2017.
O recuo por
três anos seguidos, fato inédito na série histórica do IBGE iniciada em 2003,
já é certeza entre analistas. Para este ano, o boletim Focus, divulgado
semanalmente pelo Banco Central com as projeções dos principais agentes do
mercado, projeta queda de 7% na produção industrial.
Para 2016, o recuo
esperado é de 2%. E quatro de cinco consultorias procuradas pelo GLOBO estimam
quedas superiores a esse patamar, para os dois anos.
A Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada
nesta quarta-feira pelo IBGE, mostrou que a atividade da indústria em setembro
caiu 10,9% ante o mesmo mês de 2014, com queda de 1,3% em relação a agosto.
O
resultado da comparação anual foi o pior para o mês desde o início da série
histórica. Foi a 19ª taxa negativa consecutiva e a mais acentuada desde abril
de 2009 (-14,1%). De janeiro a setembro, a queda acumulada é de 7,4%.
Setembro é conhecido como o Natal da
indústria, por ser o mês em que há alta nas encomendas, estimulada pela demanda
do consumo no fim de ano. O fenômeno, porém, não ocorreu este ano, ressaltou o
gerente do IBGE responsável pela pesquisa, André Luiz Macedo:
— Não conseguimos identificar isso (a alta em
setembro) neste ano. Esse movimento de setembro é um padrão, mas depende da
conjuntura. Esse padrão não aparece em 2015, até porque temos um recuo
generalizado.
PIOR RESULTADO DA SÉRIE
O economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, prevê que 2015
será o pior resultado da série histórica. Atualmente, a maior queda é a de 2009:
recuo de 7,1%, devido aos efeitos da crise internacional.
— No fim de 2009, estávamos em saída de
recessão, iniciada no fim de 2008. Havia uma melhora robusta. Agora é
diferente, chegamos em setembro não no final, mas no meio de uma recessão
profunda que se prolongará por 2016. A porta de saída é só no fim do ano que
vem - diz Vale.
Para o economista da GO Associados Alexandre
Andrade, só é possível prever um resultado positivo para o setor em 2017. Até
lá, diz, o câmbio desvalorizado deve começar a fazer efeito sobre a indústria.
— Não conseguimos vislumbrar elementos que
possam fazer a produção industrial melhorar a curto prazo.
Apesar do câmbio
desvalorizado, acho que temos muita volatilidade, o que dificulta no
planejamento das empresas — explica. — No segundo semestre de 2016, talvez
alguns segmentos que dependem do mercado externo sintam os efeitos do câmbio.
Andrade chama atenção para o fato de que,
mesmo com ajuste na produção, os estoques do setor automotivo, principal
responsável pela queda na atividade industrial, continuam acima do desejado. A
produção de veículos no mês encolheu 6,7% na comparação com agosto e 39,3% ante
setembro de 2014.
Alessandra Ribeiro, da Tendências
Consultoria, irá rever as estimativas em função dos resultados piores que o
esperado:
— Estimamos um recuo um
pouco superior a 8% para este ano. Para o ano que vem, atualmente temos 2% de
queda, mas devemos aumentar.
Além de forte, a retração está sendo
generalizada na comparação com setembro do ano passado. Ela alcança todas as
quatro categorias econômicas analisadas, atingindo 24 dos 26 ramos, 68 dos 79
grupos e 76,8% dos 805 produtos pesquisados pelo IBGE.
Das quatro categorias pesquisadas, três apresentaram
queda em setembro relação ao mês anterior. O dado positivo foi na categoria de
bens de capital: alta de 1% no período.
Bens intermediários caiu 1,3%; de
consumo, 1,2%; e duráveis, 5,3%. Macedo, do IBGE, ressalta, porém, que o
crescimento de 1% não compensa a queda acumulada no ano, que é de 25,2%.
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