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Ulysses Guimarães ergue a Constituição, em 1988. Em 25 anos, o texto já cresceu 39%, com
Ulysses Guimarães ergue a Constituição, em 1988. Em 25 anos, o texto já cresceu 39%, com
74 emendas (Foto: Lula Marques/Folhapress) 05/10/2013
O então presidente da Câmara dos
Deputados, Ulysses Guimarães, a ergueu como se fosse um troféu. Ao ser
formalmente apresentado à nação, o livro com a metade da bandeira do Brasil na
capa era um trabalho inigualável. A nova Constituição, promulgada em 5 de
outubro de 1988, garantia uma gama de direitos individuais, sociais e políticos
inédita na história do Brasil. Era uma grande conquista para um país que, com
apenas 99 anos de história republicana, acabara de sair de seu segundo período
ditatorial. Neste sábado (5), a Constituição brasileira completa 25 anos, num
país de comprovados avanços, mas ainda em busca de uma clara identidade. Após
um quarto de século, o Brasil gerado a partir da Constituição reproduz as
contradições do documento. Combina mecanismos de regime parlamentarista, num
país presidencialista. Liberal nos costumes e nos direitos políticos, ofereceu
retrocessos no modelo econômico. Imperfeita como todas, a Carta de 1988
expressa as contradições daquilo que o Brasil deseja ser.
O espírito da Constituição brasileira
é a igualdade de todos perante a lei, o direito de eleger governantes, o
direito a uma vida digna e livre. Os direitos políticos estão plenamente
assegurados. Desde 1989, as eleições transcorrem sem sobressaltos. O Congresso
tem de votar projetos de lei de iniciativa popular. Organizações com apoio
popular podem questionar a legalidade de medidas noSupremo Tribunal Federal (STF).
O racismo tornou-se crime inafiançável. Índios são tratados, ao menos perante a
lei, como cidadãos. Mais frágeis, crianças, adolescentes e idosos são
protegidos por uma legislação específica. Um consumidor pode enfrentar uma
empresa caso se sinta injustiçado. Está garantido o direito de todo cidadão a
uma aposentadoria e a ser tratado gratuitamente no Sistema Único de Saúde(SUS).
A partir daí, nasceu o Bolsa Família, um dos mecanismos responsáveis por tirar
milhões da miséria.
Os constituintes que escreveram o
texto, entre 1º de fevereiro de 1987 e 2 de setembro de 1988, estabeleceram
mecanismos que obrigam o governo a aplicar um percentual do Orçamento em
educação e saúde. Eles optaram por atribuir ao Estado brasileiro, e não aos
cidadãos, parte da responsabilidade por seu sustento. Esse Estado de bem-estar
social criado em 1988 tem um preço – e está claro que não é baixo. Para bancar
esse assistencialismo, o governo é voraz na cobrança de impostos: retém o
equivalente a 36% do PIB, o índice mais alto entre os países emergentes. Sobra
pouco para investir e criar condições para que os brasileiros se desenvolvam e
se sustentem sozinhos. Vinte e cinco anos depois, essa opção não redundou em
excelência nos serviços prestados. As escolas públicas ainda formam
semianalfabetos e os hospitais públicos deixam morrer pacientes nas filas de
espera. Não por acaso, o Brasil é o país emergente que menos cresce.
O Estado de
bem-estar social criado em
1988 tem um preço – e está
claro que não é baixo
Assim como na economia, parte das conquistas da “Constituição Cidadã” precisa de reformas. As garantias para cidadãos de bem são distorcidas para manter a maior parte dos corruptos com mandato a salvo de punições – com benefícios. Apenas neste ano, o primeiro deputado federal foi para a cadeia por cometer crimes. Partidos políticos ainda nascem por casuísmo. Um cidadão chamado Amarildo pode ser parado pela polícia na favela onde mora, ser preso e desaparecer. Sumiços como esse estavam entre os crimes mais temidos pelos constituintes, traumatizados pela ditadura militar. Pois eles ainda ocorrem. Ainda assim, as instituições começam a funcionar. O caso do mensalão é um alento, com todos os tropeços. Políticos corruptos da mais alta esfera do poder não só foram investigados, como condenados, com o respeito a todas as regras e garantias individuais proporcionadas pela “Constituição Cidadã”.
A Constituição brasileira, uma das
mais extensas do mundo, nasceu com 245 artigos e 1.627 dispositivos. Foi feita
num momento profícuo da política, por gente como Ulysses Guimarães, Fernando
Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Mário Covas, Jarbas Passarinho,
Roberto Campos, Delfim Netto, Florestan Fernandes, Nelson Jobim, Luís Eduardo
Magalhães, Affonso Arinos, Nélson Carneiro, José Serra, Roberto Freire, entre
outros. Não há como negar que eram tempos melhores na política e no Congresso
Nacional. Desde então, o texto cresceu 39%, com 74 emendas e 638 novos
dispositivos. Há no Congresso 1.527 propostas de mudança e 110 dispositivos que
ainda precisam ser regulamentados. A Constituição contém em si mesma o antídoto
para todos os defeitos citados. Seu texto permite aos brasileiros insatisfeitos
modificá-la. Se isso não é feito, é por culpa ou incompetência de todos.
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