Igrejas são demolidas em nova onda de perseguição a cristãos na China

Vários prédios e imagens foram destruídos nas últimas semanas. Governo nega campanha contra religião que tem crescido no país oficialmente ateísta
Igreja controlada pelo Estado em Pequim, na China
Igreja controlada pelo Estado em Pequim, na China (Elizabeth Dalziel/AP)
Recentes casos de demolição de igrejas e destruição de estátuas que evocavam passagens da vida de Cristo reacenderam o alerta contra a perseguição a cristãos na China. A cidade de Wenzhou, na província de Zhejiang, costa leste do país, é conhecida como ‘Jerusalém da China’, e tem sido o foco das ações. No entanto, cristãos temem que uma campanha nacional esteja sendo preparada, em uma tentativa de barrar o crescimento do cristianismo no país.
“Ainda não está claro se isso é o início de uma campanha mais ampla contra o cristianismo. No entanto, o que aconteceu em Zhejiang deve ter ao menos a aprovação tácita do governo central”, acredita Fenggang Yang, diretor do Centro de Religião e Sociedade Chinesa da Universidade Purdue. “Nos últimos anos, as autoridades comunistas ficaram mais assustadas com o rápido crescimento do cristianismo”.
O professor Yang, autor de Religião na China: Sobrevivência e Ressurgimento sob o Domínio Comunista’, afirma que o crescimento do cristianismo foi rápido nas últimas três décadas, com média de 10% ao ano desde 1980. O número de católicos desde então passou de 3 milhões para 9 a 12 milhões em 2010, enquanto o número de protestantes saltou de 3 milhões para ao menos 58 milhões em 2010, ou 4,3% da população chinesa, segundo o Pew Research Center.
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O instituto ressalta que saber com precisão quantos cristãos há na China é tarefa dificultada pelo fato de que muitos frequentam igrejas clandestinas. Por outro lado, acrescenta que até pouco tempo atrás, poucos pesquisadores sabiam se a religião havia sobrevivido à Revolução Cultural desencadeada por Mao Tsé-tung nos anos 60. Agora sabe-se que milhões de chineses têm alguma fé religiosa.
“Nos últimos trinta anos, a sociedade chinesa tem vivenciado um momento de abertura e o governo se deu conta de que teria de tolerar, até certo ponto, a liberdade dos indivíduos”, pontua Feng Wang, professor de sociologia da Universidade de Michigan especializado em China. Essa abertura – iniciada por Deng Xiaoping no final de década de 1970 e ao longo dos nos anos 1980 – propiciou o uso limitado da internet e o abandono do marxismo como ideologia oficial, por exemplo. “Nesse contexto, muitas pessoas na sociedade chinesa decidiram buscar uma zona de conforto espiritual (...) O governo tem consciência que não pode suprimir esse desejo. Contudo, o que o governo não entende, não autoriza e, mais ainda, teme é a criação de organizações religiosas”.  
Numa democracia funcional, as religiões também têm um papel de coesão social e são regidas por instituições estruturadas que podem, eventualmente, se contrapor aos governos e criticar os governantes. E isso é tudo que Pequim não deseja. “O Partido Comunista não pode tolerar qualquer outra organização que não seja a do próprio partido. Admitem a prática religiosa, desde que esteja, de alguma forma, atrelada ao Estado. Tanto que a China não reconhece o Vaticano. E, inclusive, é o próprio partido que determina quem serão os bispos e padres”, lembra Wang.
A Associação Católica Patriótica Chinesa, versão da Igreja que segue os preceitos do Partido Comunista, sempre viveu em conflito com o Vaticano, que não reconhece os padres e bispos nomeados pela associação. A Constituição de 1982 permite o culto a cinco religiões, mas proíbe qualquer influência estrangeira.
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No caso das recentes ações em Zhejiang, o professor Fenggang Yang aponta uma motivação política para as medidas extremas destinadas a controlar o crescimento do cristianismo: a ânsia dos líderes provinciais em impressionar o presidente Xi Jinping e, desta forma, subir na hierarquia comunista.
O governo chinês tenta justificar a recente onda de demolições – que já deixou ao menos seis locais de culto completa ou parcialmente demolidos, segundo o jornal britânico Daily Telegraph– dizendo que os prédios vieram abaixo porque havia irregularidades nas construções. O especialista de Purdue rejeita o argumento: “O fato é que muitos prédios governamentais, comerciais e outras construções religiosas também violaram regras, mas até aqui a maior parte dos grandes prédios demolidos eram igrejas cristãs. Mais do que isso, não há nenhuma justificativa legal para tirar cruzes de igrejas ou cortar a luz de igrejas à noite. Que tipo de regra as cruzes ou as luzes violaram? O alvo claramente são as igrejas cristãs”.


(Com reportagem de Ana Clara Costa)

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