sexta-feira, outubro 16, 2015
REVELAÇÕES SOBRE AS FORÇAS ARMADAS
DESCRÉDITO GERAL
Por Olavo de CarvalhoTranscrito do site Mídia Sem Máscara
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Uma pesquisa da CNT, Confederação Nacional dos Transportes, traz alguns
dados fundamentais para a compreensão do estado de coisas no Brasil de hoje. O
relatório completo está em http://imguol.com/blogs/52/files/2015/07/pesquisa-cntmda-128-relatorio-sintese.pdf,
mas a tabela que reproduzo neste artigo (página 45 do relatório) fala por si.
A pesquisa buscou averiguar, com uma amostragem significativa colhida em
várias regiões do país, quais as instituições em que o povo brasileiro mais e
menos confia: igrejas, partidos políticos, governo, mídia etc. É uma pergunta
temível, que anuncia choro e ranger de dentes.
Entre mortos e feridos, a principal vítima foram as Forças Armadas.
Semanas atrás, afirmei que, tendo sido por décadas a instituição exibida em
todas as pesquisas como a mais confiável do país, elas logo perderiam esse
estatuto e rastejariam na lama do descrédito junto com a mídia e os políticos.
O motivo que me levou a esse prognóstico sombrio foi a longa série de
hesitações, embromações e desconversas pomposas com que os militares
responderam ao clamor de seus admiradores devotos por uma “intervenção militar”
supostamente salvadora. A sucessão de vexames entremeados de ostentações de
patriotismo histriônico, que teve um ponto alto no ridículo desfile de Sete de
Setembro em recinto fechado, chegou ao auge no showde puxassaquismo
e concordância ideológica oferecido pelos comandantes das três armas ao
representante do Foro de São Paulo, Aldo Rebelo.
Pois bem, a previsão já estava se cumprindo quando foi anunciada.
A pesquisa, de julho, mas só publicada agora, revela que o nível de confiança
popular nas Forças Armadas baixou dos antigos 50 e tantos por cento para 15,5
por cento. Merecidamente.
Para meditação dos oficiais militares que ainda prezam um pouco a reputação
das suas corporações, relembro aqui o clássico haikai de
Antonio Machado:
Cuan dificil es
Cuando todo baja
No bajar también.
Com toda a certeza, os oficiais empenhados em alinhar as suas
instituições com a política do Foro de São Paulo acreditaram que podiam
continuar fazendo isso sem despertar suspeitas, protegidos sob a redoma da
tradicional confiabilidade militar, consolidada ao longo de décadas de
pesquisas. Mas nenhum capital acumulado resiste por muito tempo a um empenho
sério e obstinado de cultivar o prejuízo.
Se os bravos guerreiros não acordarem, daqui a pouco teremos Pixulekos
fardados flutuando nas praças, e os oficiais vistos de uniforme nas ruas ou nos
restaurantes receberão o mesmo tratamento dado ao sr. Adams e similares.
Com exceção das igrejas em geral, que 53,5 por cento dos entrevistados
consideraram maximamente confiáveis, praticamente todas as demais instituições
nacionais tiveram desempenhos tão baixos que não há exagero nenhum em dizer que
perderam por completo a confiança do povo: Justiça, 10,1 por cento; polícia, 5
por cento; imprensa, 4,8 por cento; governo, 1,1 por cento; Congresso Nacional,
0,8 por cento; partidos políticos, 0,1 por cento.
Se um governo que permanece no poder desfrutando da confiança de apenas
1,1 por cento já é a prova contundente de que não existe mais nenhuma
“democracia” a ser preservada, mais patético ainda é que o Congresso, da qual
tantos comentaristas de mídia esperam a cura miraculosa do descalabro nacional,
esteja abaixo dele na escala, com seus 0,8 por cento de confiabilidade. Não é
isso que as pessoas chamam de pedir socorro para o bandido?
Como entender esse quadro, exceto como o retrato de uma quebra total da
confiança, de uma ruptura insanável entre o povo e a elite governante, de uma
falência total do sistema, de um estado de coisas, em suma, revolucionário?
Não é de estranhar que a minoria dominante se esforce acima de tudo para
simular normalidade, louvando como valores sacrossantos as “nossas
instituições”, fazendo apelos ao fetiche da “estabilidade”, repetindo
infindavelmente o mantra de que o leão é manso e de que, se ele não for, não se
preocupem, porque “estamos preparados”.
Nem é de espantar que o partido menos confiável de todos, objeto do ódio
ostensivo de mais de noventa por cento da população, entre em delírio paranóico
e, invertendo radicalmente o senso das proporções, atribua tudo a uma
“conspiração golpista das elites”, como se não fosse ele próprio a elite mais
golpista que já existiu neste país.
Já os 4,8 por cento de confiabilidade atribuídos à mídia mostram que o
povo está consciente de viver num cenário fictício criado por aqueles cuja
obrigação seria informá-lo da realidade.
Desde a longa e ominosa ocultação da existência do Foro de São Paulo até
o atual empenho de camuflar a tomada do poder continental por organizações
comunistas (que poderia ter sido evitada sem o manto de invisibilidade
protetora lançado sobre o Foro de São Paulo), é evidente que a classe
jornalística no Brasil se tornou uma seita empenhada em defender os
seus queridos mitos de juventude – e os grupos que os personificam – contra
toda interferência dos malditos fatos.
Nossos grandes jornais e canais de TV, com efeito, não medem esforços na
sua missão anestésica, modificando até o vocabulário da língua portuguesa para
que nunca, em hipótese alguma, as coisas pareçam o que são.
Vou citar só um caso entre milhares.
Uma recente pesquisa do Datafolha, confirmando brutalmente a
da CNT, evidenciou a diferença radical de opiniões entre os membros do
Congresso e a população brasileira (v.http://epoca.globo.com/tempo/filtro/noticia/2015/10/politicos-brasileiros-sao-mais-liberais-do-que-o-eleitorado-diz-pesquisa.html).
Por exemplo, “55% dos brasileiros disseram ser de direita, enquanto apenas 17%
dos parlamentares concordaram que seguem a mesma linha... Dos deputados e
senadores ouvidos, 53% disseram que a lei deveria reconhecer uma família com
pessoas do mesmo sexo... Já para a população brasileira, 60% afirmam que, por
lei, uma família deve ser formada apenas entre homem e mulher”.
Os políticos, evidentemente, querem o contrário do que o eleitorado
quer. Não o representam em nenhum sentido substancial do termo.
Mas como foi que a Folha e a revista Época noticiaram
esse resultado? Vejam o título: “Políticos brasileiros são mais liberais do que
o eleitorado, diz pesquisa”.
Liberais? Liberal, no vocabulário político brasileiro, quer dizer
anti-socialista e partidário da economia de mercado – alguém da direita, em
suma. Como chamar de liberal um grupo em que 83 por cento dos membros dizem que
não são de direita de maneira alguma? O certo, obviamente, seria dizer que os
políticos são mais esquerdistas – não mais liberais – do que
os seus eleitores.
Mas isso seria confessar que um povo acentuadamente conservador vive,
contra a sua vontade expressa, sob a hegemonia ditatorial de um grupo
minoritário esquerdista, exatamente como planejado pela estratégia de Antonio
Gramsci adotada pelos partidos de esquerda desde há mais de trinta anos. E isso
a Folha não poderia confessar de maneira alguma, tendo sido
ela própria um dos instrumentos principais para a implantação dessa hegemonia.
Qual o remédio encontrado? Apelar à língua inglesa falada nos EUA, onde
a palavra “liberal”, sem que em geral o povo brasileiro tenha disso a menor
idéia, significa precisamente “esquerdista” em oposição a “conservative”.
Eis como a Folha, transmitindo a informação, anestesia o leitor para
que não a compreenda.
Usar as palavras corretas, descrevendo adequadamente a situação que a
pesquisa evidencia, seria reconhecer que há muito tempo o sistema
representativo, a mais beatificada das nossas “instituições”, já se tornou uma
fraude completa, um jogo de cartas marcadas criado para dar representatividade
legal a um grupo manipulador desprovido de qualquer representatividade
substantiva.
É evidente que, sem essa máquina de ludibriar o povo, fenômenos como o
Mensalão, o Petrolão, ou qualquer dos outros inumeráveis crimes cometidos pelo
governo com a cumplicidade da classe política praticamente inteira, jamais
teriam sido possíveis. Mas reconhecer isso seria admitir a unidade solidária do
esquema gramsciano com o roubo organizado – e isto daria por terra com a gentil
operação de gerenciamento de danos, com a qual, não podendo negar totalmente os
fatos delituosos, a mídia se esforça para apresentá-los como meros delitos
comuns, sem qualquer conexão com a estratégia comunista de dominação total.
Se isso não é cumplicidade com o crime, as palavras “crime” e
“cumplicidade” também devem ter mudado de significado.
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