Partido tenta barrar depoimentos de nomes que têm relação com peemedebistas na CPI da Petrobras, jogando os holofotes para nomes como o tesoureiro do PT, João Vaccari Neto
Embora a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras tenha sido instalada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), um dos primeiros atos depois de sua posse, o PMDB se movimenta para não deixar que as investigações alcancem seus filiados, listados no inquérito aberto pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Uma das ações de blindagem é não permitir a convocação de empresários e lobistas ligados ao partido. Neste rol de nomes estão o empresário Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano; o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, também investigado como parte do esquema de propina; o do ex-policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca, apontado como o responsável pelo transporte das malas de dinheiro proveniente de propina paga pelas empresas aos políticos, além do empresário Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal.
Baiano é apontado pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal como operador do PMDB no esquema. Ele também é acusado de pagar propina a deputados para obstruir a CPI da Petrobras ocorrida no Congresso Nacional entre 2009 e 2010.
Careca é o principal acusador de Cunha. Ele é acusado pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal de transportar o dinheiro de propinas de Youssef. De acordo com as investigações, Careca teria entregado entre 2011 e 2012 pelo menos R$ 16,7 milhões em dinheiro vivo, de acordo com a contabilidade informal feita pelo doleiro e apreendida pela polícia. Afastado da Polícia Federal por determinação do juiz da 13ª Vara Federal do Paraná, Sérgio Moro, Careca é o principal acusador de Eduardo Cunha e do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). Ele aponta os dois políticos como beneficiários do dinheiro que entregava.
Já o ex-diretor da Transpetro Nelson Machado representa a ligação de Renan com a investigação. Investigado esquema, Machado ocupou a direção da subsidiária da Petrobras por indicação de Renan.
Júlio Camargo é considerado um operador do dinheiro desviado, de acordo com as investigações. A empresa representada por ele teria contratos de cerca de R$ 4 bilhões com a estatal.
Manobra
As críticas de blindagem partem dos próprios integrantes da CPI. Os petistas acusam o PMDB de tentar jogar o foco das investigações sobre o PT e contar com o apoio do PSDB para isso, já que aos tucanos não interessa a convocação do ex-policial que também acusa do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG) como receptor do dinheiro de Youssef.
A manobra, de acordo com o deputado Ivan Valente (PSOL-SP), teria ficado evidente diante da aprovação da convocação do tesoureiro do partido, João Vaccari Neto.
“Não faz nenhum sentido convocar o Vaccari e não convocar o Fernando Baiano”, contestou Valente, que junto com o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), tem forçado a aprovação das convocações.
“Não querem convocar os empresários, nem o Fernando Baiano, nem Nelson Machado, nem ninguém que tem algo a contribuir com as investigações da forma que ela tem que ser feita”, reclamou Delgado.
O ritmo dos trabalhos imposto pelo presidente Hugo Mota (PMDB-PB), ligado a Eduardo Cunha, também é alvo de críticas. “Como passar um dia inteiro ouvindo a ex-presidente da Petrobras Graça Foster, em seu quinto depoimento no Congresso? Isso só tem um objetivo: gastar o tempo da CPI e não ouvir quem tem algo a dizer”, considerou Ivan Valente.
Outro exemplo de procrastinação apontado pelos parlamentares foi a discussão que durou toda tarde de terça-feira sobre a convocação dos “representantes legais” das empresas envolvidas, apresentados pelo líder do PSC, deputado André Moura (PSC-SE), também ligado a Cunha.
“Representante legal não tem nada a ver com o esquema. O presidente gastou um dia de trabalho discutindo esses requerimentos até começar a Ordem do Dia. Assim não tinha mais como votar os requerimentos que pedem o depoimento de pessoas que contribuiriam realmente com as investigações”, considerou Ivan Valente.
Também tem irritado os deputados de outros partidos o fato de que, apesar dos apelos, Mota não convocou sessão da CPI para a próxima terça-feira (31).
As ações de blindagem na CPI tiveram início antes do início dos trabalhos, quando Cunha, investigado no esquema, interferiu diretamente na escolha do presidente da comissão e do relator, Luiz Sérgio (PT-RJ), que contou com o aval de Cunha. O presidente da Câmara tratou de ocupar, com a ajuda de deputados féis, todos os postos-chave da CPI.
Para garantir maior controle do relatório, que seria de responsabilidade exclusiva de Luiz Sérgio, o próprio presidente da Câmara tratou de dividir, entre deputados aliados, a relatoria, e escolheu quatro sub-relatores, aliados de primeira hora de Cunha.
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