O jornalista Ricardo Cappelli faz um grave
alerta aos democratas brasileiros: Bolsonaro cogita dar golpe, com apoio de
militares, para fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.
“Nunca levei a sério a possibilidade de fechamento democrático.
Mudei de opinião esta semana”, diz o articulista em mensagem ao Blog do Esmael.
BOLSONARO TEM NOÇÃO
Ricardo
Cappelli*
Analistas políticos passaram os últimos dias
dizendo que Bolsonaro é “louco”, “inepto”, um “sem noção”. Será? Vamos analisar
os fatos com frieza.
Rodrigo Maia convida Bolsonaro para um almoço com Toffoli e
Alcolumbre. O presidente aceita o convite, mas leva com ele 14 ministros.
É uma prática
manjada em Brasília. Quando você não quer conversar, mas não quer ser
deselegante, você enche a sala de pessoas. Se o principal projeto é a reforma
da previdência, faz sentido implodir uma reunião com os comandantes do
processo?
Vamos seguir os sinais. Moro fica irritado com
a decisão de Maia de adiar a análise de seu pacote anticrime. Faz cobranças. O
presidente da Câmara reage chamando o ex-juiz de “funcionário de Bolsonaro” e
desqualificando o “copia e cola” do ministro da Justiça.
O que faz Moro? Solta uma nota e dobra o ataque
ao Congresso: “Talvez alguns entendam que o combate ao crime pode ser adiado
indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais.” Carlos Bolsonaro sai
na defesa do ex-juiz e ataca Maia nas redes.
Nos EUA, o “guru” Olavo de Carvalho chama Mourão – que vinha
sinalizando moderação e entendimento – de idiota. Bolsonaro leva Olavo e Bannon
para reuniões na terra do Tio Sam.
Temer é preso.
Segundo Bolsonaro, “acordos políticos feitos em nome da governabilidade”
levaram Michel e Moreira para o xilindró.
A prisão do
ex-presidente é acompanhada de uma ofensiva nas redes contra o STF. Ela foi uma
evidente reação – novamente arbitrária e ilegal – da Lava Jato às suas derrotas
recentes na Suprema Corte. A República de Curitiba resolveu mostrar quem manda.
Acompanhando
Bolsonaro no exterior, Felipe Martins, assessor da presidência da República, é
claro e direto. Defende nas redes a união da ala “anti-establishment” do
governo, a mobilização popular, a “quebra da velha política” e a Lava Jato.
Surgem sinais preocupantes na caserna. Circula a informação que
o ministro da Defesa, tido como moderado, resolveu condecorar o “Torquemada”
Deltan Dallagnol.
A proposta de
reforma da previdência dos militares é uma peça de ficção. A economia de 1
bilhão por ano é irrisória. A proposta é acompanhada de uma reorganização das
carreiras, privilegiando os mais graduados. Descuido? Trapalhada?
O mercado fica
apavorado com a briga de rua entre Bolsonaro e Rodrigo Maia. O “Botafogo” foi
chamado de namoradinha de beicinho pelo Capitão. A crise escala. Demonizaram a
política e desestabilizaram a democracia. Esperavam o quê?
O Capitão vota
no Congresso? Os generais votam? O MPF vota? De quem é o dever constitucional
de aprovar leis? O executivo encaminha a proposta, mas quem vota?
A derrota na
previdência e o caos financeiro podem ser o “pretexto final”. Bolsonaro já
disse que não gostaria de fazer a reforma. Os militares são contra. As
corporações da Lava jato, elite do funcionalismo público, idem.
Que tal o
desemprego subindo, a miséria aumentando e a culpa do caos ser dos políticos
que só pensam nos seus próprios interesses e de ministros do STF que “vivem de
soltar corruptos”?
A aliança entre
a turma Olavo-Bannon, militares e Lava Jato está emparedando o STF e o
Congresso. Rodrigo Maia parece iludido. Ainda não percebeu que ele e seus
amigos do Centrão são os inimigos, os próximos na fila do Dr. Bretas.
Se a reforma não
passar, a aliança entre o mercado e os grandes grupos de mídia vai tentar
derrubar Bolsonaro. O Capitão vai reagir. Pode até cair descartado como excesso
indesejável, mas nenhum país resiste a tanta instabilidade.
Ficando ou
caindo, diante do caos, as condições para um fechamento democrático estarão
dadas.
Quem empurrou o
Brasil para esta situação talvez não tivesse noção do que fazia. Bolsonaro está
sendo coerente. Tem noção do que faz. Veio para destruir um sistema político
definido como “velho e podre” por Merval Pereira e sua trupe..
A gravidade do
momento exige que liberais e socialistas, democratas e ativistas de todas as
matizes sentem e conversem. A democracia está derretendo no Brasil.
*Ricardo
Cappelli é jornalista e secretário de estado do Maranhão, cujo governo
representa em Brasília. Foi presidente da UNE (União Nacional dos Estudantes)
na gestão 1997-1999.
Fontehttps://www.esmaelmorais.com.br
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