A oceanógrafa brasileira Giselle Firme, de 41 anos, vive em Sydney, na Austrália, desde 2006.
Casada com um australiano e mãe de dois filhos, ela conta como viver em um dos países mais secos do mundo mudou seus hábitos.
Na Austrália, o setor agrícola - bem como no Brasil - é o principal consumidor de água (cerca de 52% em 2010). O consumo direto, no entanto, também faz diferença e é alvo de constantes campanhas.
"Quando cheguei aqui, fazia tudo errado: escovava os dentes com a torneira aberta, deixava o chuveiro ligado para esquentar a água, tomava banhos demorados e usava a máquina de lavar roupa todo dia.
Não demorou muito para eu perceber que, aqui, a escassez é grave, e é preciso mudar hábitos e economizar água", disse à BBC Brasil.
Algumas das mudanças, descritas abaixo, podem espantar brasileiros acostumados com água em abundância. Mas, como explica Giselle, "a pressão social para se usar esses métodos mais 'econômicos' é forte" no país.
1. Eu me lembro da bronca do meu marido quando me viu escovando os dentes enquanto a água escorria pela torneira. Agora, molho a pasta, fecho a torneira e só abro novamente para bochechar.
2. Aqui, não existe isso de lavar banheiros ou lavar cozinha jogando água de balde. Nao se acha nem rodo, nem pano de chão para vender. Limpa-se com um esfregão (que chamamos de mop) molhado.
3. Banhos devem durar, no máximo, cinco minutos. Essa é a orientação geral. Cada minuto com o chuveiro ligado gasta de 6 a 25 litros de água dependendo da eficiência do chuveiro.
A minha vizinha, outro dia, me contou toda feliz que era dia de lavar o cabelo (eles não lavam todo dia) - muito diferente do nosso hábito de todo dia passar xampu e creme, com a água rolando ralo abaixo.
Ainda não perdi o hábito, mas desligo o chuveiro nesses momentos - o que já tinha aprendido em cruzeiros oceanográficos, onde a água também é racionada.
Austrália enfrentou as consequências de uma das maiores secas de sua história pela última década
4. É comum na Austrália que os banheiros tenham descargas com sistema duplo. E não só isso: em épocas de seca, ouve-se muito o conselho: "If it's yellow, leave it mellow", que pode ser traduzido por: "Se for amarelo, deixe estar". Fica a critério de cada um. Mas é importante, que se saiba que um sistema antigo chega a gastar 12 litros por descarga.
5. Há uma técnica especial para se lavar louça. Enche-se a pia de água com detergente e usa-se essa mesma água para toda a louça. É preciso, portanto, fazer uma pré-limpeza de restos de comida para não sujar demais a água. É uma técnica radical para uma brasileira, então, opto pela máquina de lavar louça que, segundo estudos, usa ainda menos água.
6. Em épocas de escassez, quando há punições para quem gasta demais, você pode ser denunciado por vizinhos se estiver lavando carro com água corrente. Na melhor das hipóteses, vai ficar mal com a vizinhança. Quando vou ao Brasil e vejo aquela cena de porteiros lavando calçadas com mangueiras por longos períodos, me lembro do conselho aqui para se varrer e não lavar a calçada.
7. Muita gente tem nos jardins tanques para acumular água da chuva. Em épocas de extrema seca, não se pode usar mangueira para regar plantas.
8. É comum também encontrar casas que deixam um balde no banheiro para usar a água acumulada na banheira para outros fins.
9. As crianças aprendem a lavar as mãos esfregando sabão líquido nas mãos secas e só depois ligando a água para enxaguar.
10. É preciso ficar atento à certificação de máquinas de lavar roupa e louça, bem como de torneiras e chuveiros. A diferença de consumo pode ser muito grande.
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