Os investigadores Filipe Pereira e Andreia Gomes
Fotografia: © DR
Um projeto de investigação conjunta do
Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC-UC),
com três institutos dos EUA (Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai), da
Suécia (Centro Wallenberg de Medicina Molecular) e da Rússia (Instituto de
Ciência e Tecnologia Skolkovo), conseguiu converter, pela primeira vez, células
da pele em células do sangue.
A descoberta poderá ter um grande
potencial na medicina personalizada (com produtos adaptados para o organismo de
cada ser humano) para tratamento de doenças como a leucemia.
O resultado deste estudo, com a duração
de quatro anos, foi publicado recentemente na revista Cell Reports. No artigo,
é demonstrada a reprogramação direta de células humanas da pele em células
estaminais hematopoiéticas. Estas células estaminais são as principais
percursoras dos componentes do sistema sanguíneo, formando-se num processo
designado de hemogénese. Este processo foi alcançado em laboratório com a
utilização de três proteínas (GATA2, FOS e GFI1B).
O PRÓXIMO PASSO SERÁ AUMENTAR A
EFICIÊNCIA E A QUALIDADE DAS CÉLULAS ENXERTADAS PARA QUE CONTRIBUAM PARA A
FORMAÇÃO DE SANGUE DURANTE MAIORES PERÍODOS DE TEMPO.
“Este estudo é o primeiro a demonstrar
a reprogramação direta em células hematopoiéticas humanas, que poderá ser um
primeiro passo no caminho de conseguir gerar células estaminais sanguíneas
perfeitamente funcionais no laboratório. No futuro, estas células reprogramadas
poderão ser transplantadas em doentes com doenças no sangue”, explica Filipe
Pereira, investigador do CNC-UC e coordenador do estudo. “É extremamente
interessante que apenas três proteínas consigam causar uma mudança tão drástica
e que sejam conservadas evolutivamente entre ratinhos e humanos”, acrescenta.
O estudo demonstrou que a GATA2 lidera
esta combinação de três proteínas, uma vez que recruta as restantes duas para
ativar o processo de hemogénese e “desligar” o programa normal das células da
pele. Estes mecanismos foram testados em ratinhos. E, após um período de três
meses, comprovou-se que as células convertidas contribuem para a formação de
novo sangue humano nestas cobaias. “Após o transplante das células
hematopoiéticas estaminais em ratinhos ter sido bem-sucedido, o próximo passo
será aumentar a eficiência e a qualidade das células enxertadas para que
contribuam para a formação de sangue durante maiores períodos de tempo.”
adiciona Filipe Pereira.
Tendo conseguido determinar os
principais mecanismos do processo de reprogramação celular em células da pele
humanas, a equipa de investigadores procurará no futuro estender o tempo de
vida das células reprogramadas, “pretendendo tornar este processo uma realidade
na medicina personalizada, em doenças do sangue como a leucemia”, conclui o
investigador do CNC-UC.
Além de Filipe Pereira, o artigo
“Cooperative Transcription Factor Induction Mediates Hemogenic Reprogramming”
conta igualmente com Andreia Gomes (CNC-UC) como autora principal. O estudo foi
financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (Portugal), pela Fundação
Knut e Alice Wallenberg (Suécia), e pelo Instituto Nacional de Saúde (EUA).
CNC-UC
Fonte: Noticias UC
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