De catadora a presidente, Graça Foster chegou a ser 'uma das 100 pessoas mais influentes do mundo'
- 4 fevereiro 2015
Festejada ao assumir a presidência da Petrobras em 2012 pela fama de gerente eficiente e durona, Graça Foster deixa a empresa empurrada pelo turbilhão da maior crise da história da estatal, não podendo ser salva nem pela amizade e confiança da presidente Dilma Rousseff – que a chamava de 'Graciosa'.
Maria das Graças Silva Foster, conhecida apenas como Graça Foster, dedicou toda a vida profissional à Petrobras – onde entrou como estagiária em 1978 – e já chegou a dizer que "morreria" pela empresa.
Mas o aprofundamento da crise da Petrobras e as críticas geradas pela publicação do balanço do terceiro trimestre de 2014 na semana passada aumentaram o desgaste político sofrido pela executiva, que por duas vezes já tinha colocado seu cargo à disposição de Dilma, mas vinha sendo preservada pela presidente.
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O tempo virou desde que Foster assumiu a presidência da Petrobras há três anos, em um momento em que o futuro da empresa parecia um mar de oportunidades, e os desafios pela frente pareciam ser estritamente de ordem técnica - como as barreiras a serem vencidas para explorar as reservas profundas do pré-sal.
"Externo minha gratidão e fidelidade incondicional à presidenta da República, Dilma Rousseff", disse na cerimônia de posse em fevereiro de 2012, agradecendo, emocionada, pela confiança de receber "o mais alto posto de uma das maiores empresas do mundo".
"Sinto-me preparada", pontuou Foster.
Meses depois ela viria a ser listada pela revista americana Time como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2012, ao lado da própria presidente e de Eike Batista – antes da derrocada do então magnata.
Foster foi a primeira mulher a assumir a presidência da Petrobras e também de qualquer empresa de petróleo no mundoFoster foi a primeira mulher a assumir a presidência da Petrobras e também de qualquer empresa de petróleo no mundo, até então um clube dominado exclusivamente por homens, segundo levantamento feito à época pelo Energy Institute da Grã-Bretanha a pedido da BBC Brasil.
Era o posto que coroava uma vida de dificuldades e perseverança. Foster conheceu a pobreza e o trabalho desde os primeiros anos de vida. A família pobre de Caratinga, Minas Gerais, mudou-se para o Rio quando ela tinha apenas 2 anos e se instalou no Morro do Adeus – hoje uma das favelas que compõem o Complexo do Alemão.
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A menina Graça catava papel, latinhas e garrafas para ajudar em casa – e comprar as canetas e borrachas para poder ir para a escola. "Garra para mim é tudo. Nunca tive medo de trabalho", disse em uma entrevista ao jornal O Globo quando estava à frente da diretoria de Minas e Energia da Petrobras.
Entrou como estagiária na Petrobras no ano em que se formou em engenharia química pela Universidade Federal Fluminense e foi galgando gerências até chegar à presidência.
Em entrevista à BBC Brasil em 2012, disse que sempre foi "a primeira mulher" a ocupar os cargos de chefia a que chegou.
"Quando eu olho para trás, em todas as carreiras que eu ocupei desde que eu entrei (na empresa), desde a minha primeira gerência como chefe de setor da perfuração, sempre fui a primeira mulher. Mas depois não veio nenhuma mulher. Isso é que me preocupa. Nunca fui substituída por uma mulher. Mas é uma questão estatística, e não de preconceito da Petrobras."
Trazida para o presente, sua frase poderia ser interpretada como uma expectativa quase nula de que sua substituta na presidência fosse também uma mulher.
Apesar de o ambiente na indústria do petróleo ainda ser predominantemente masculino, a situação na Petrobras melhorou e não inclui restrições à admissão de mulheres nos quadros, como as que ela enfrentou no início da carreira.
"Lá atrás você não podia fazer concurso para todas as áreas da Petrobras. Há muito tempo já não temos mais essa restrição", disse em 2012.
Corrupção
As primeiras denúncias da operação Lava Jato estão prestes a completar um ano.
Neste período, os depoimentos de parte dos envolvidos em esquema de delação premiada trouxeram à tona os detalhes e a escala do intrincado esquema de corrupção que envolvia executivos da Petrobras, políticos e empreiteiras na venda de contratos superfaturados e desvio de recursos da estatal.
O acirramento da crise teve capítulos como o que levou Foster a admitir no Congresso que a compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, não havia sido "um bom negócio"; e a divulgação do último balanço da Petrobras com dois meses de atraso, autorizada por Foster no meio da madrugada semana passada – seguido do maior tombo das ações da Petrobras nos últimos 12 anos.
O balanço não auditado informou que a estatal teria o equivalente a R$ 88 bilhões em ativos "superavaliados", ou seja, registrados na contabilidade da empresa com valores mais altos que os reais.
Mas não conseguiu esclarecer o tamanho do rombo provocado pelo escândalo de corrupção na empresa, o que para muitos foi a gota que faltava para tornar insustentável a situação de Foster à frente da empresa, até aos olhos da presidente Dilma.
Colocado sem alarde no site nesta quarta-feira, o comunicado indireto com que a Petrobras comunicou a saída de Foster – informando que seu Conselho de Administração se reuniria na próxima sexta-feira para eleger a nova diretoria "face à renúncia da presidente e de cinco diretores" – encerra de forma melancólica seus 35 anos na empresa.
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