As cifras dão vertigem. Le Monde publicou o primeiro folheto de uma investigação tanto espetacular como inédita.
Fruto de investigações conduzidas entre Paris, Washington, Buxelles ou Genève, ela desvenda os segredos de um vasto sistema de evasão fiscal aceita, e mesmo encorajada, pelo banco britânico HSBC, décimo grupo bancário mundial, por intermédio de sua filial suíça, o HSBC Private Bank.
Le Monde, que investiga sobre o caso HSBC, desde sua origem, ficou no início de 2014 de posse de dados bancários mundiais, referindo-se ao período 2005-2007, estabelecendo uma gigantesca fraude em escala internacional.
Nós temos compartilhado estes dados com umas sessenta mídias internacionais, coordenadas pelo ICIJ (consócio de jornalistas investigativos).
A revelação (das fraudes) é suscetível de deixar atrapalhadas numerosas personalidades desde o humorista francês, Gad Elmaleh, ao rei do Marrocos, Mohad IV, passando pelo ator americano John Malkovich mas, sobretudo fazer tremer milhares de banqueiros internacionais.
Segundo os investigadores, 180,6 bilhões de euros transitaram em Genebra, pelo banco HSBC, em contas de mais de 100.000 clientes e de 20.000 sociedades offshore, mais precisamente entre 9 de novembro de 2006 e 31 de março de 2007.
Um período correspondente aos arquivos numerados furtados do HSBC Private Bank por Hervé Falciani, antigo empregado do banco.
Assim, ao final de 2008, este informante francês tinha fornecido aos agentes do fisco francês os dados roubados da casa de seu patrão.
De posse destes fatos, em janeiro de 2009, a justiça francesa investiga sobre uma pequena parte das “listas de Falciani”, a saber os cerca de 3000 protegidos diplomáticos estrangeiros suspeitos de ter lavado seu dinheiro no HSBC PB, e isso com a cumplicidade do banco – (o qual os considera como grupo de indivíduos que a lei reconhece como pessoa jurídica para “cortesia bancária e financiamentos ilícitos” bem como “lavagem de fraude fiscal”.
Mais de 5,7 bilhões de euros foram lavados pelo HSBC PB nos paraísos fiscais em contas de seus clientes franceses….Bercy pegou da justiça somente setenta casos, dentre os quais aquele da herdeira de Nina Ricci (o qual deverá ser aberto dentro de alguns dias em Paris), a maior parte dos contribuintes jurídicos, “desmascarados” pelas listas de Falciani, tinham, é verdade, regularizado nesta época sua situação fiscal.
Em 28 de janeiro de 2014, sob o título Listas HSBC: à saga de uma investigação explosiva sobre a evasão fiscal, Le Monde publicou uma série de artigos desvendando os segredos da investigação judicial francesa. Mas, nesta faltou o aspecto mundial.
Alguns dias mais tarde, uma pessoa se apresentou na recepção do jornal, no Boulevard Auguste-Blanqui em Paris.
Esta fonte, a qual nós protegemos o anonimato, nos entrega um pen drive contendo a totalidade dos fichários estabelecidos a partir dos “dados Falciani” no maior segredo, a contar de 2009, pelos serviços fiscais franceses, às vezes a despeito das reticências do poder político.
A quem encontramos nestas listas – enviadas por Bercy à várias administrações estrangeiras – e às quais nós revelamos os nomes daqueles que apresentam interesse público? São nomes de traficantes de armas e de entorpecentes, de financiadores de organizações terroristas, de homens políticos, de vedetes do show business, de ícones do esporte ou de capitães da indústria.
Desejosos, na sua grande maioria, de esconder seu dinheiro na Suíça.
E isto, certamente, muito seguidamente, à maneira dos clientes franceses, dentro da mais perfeita ilegalidade.
A disparidade de perfis dos detentores de contas é muito impressionante.
Entre estes, os cirurgiões franceses, desejosos de lavar seus honorários não declarados, ao lado dos vendedores de diamantes (relojoeiros) belgas, dos protagonistas do caso Elf ou das numerosas famílias judias, das quais os bens tinham sido postos em lugar seguro, na Suíça, no momento do advento do nazismo na Europa…
Muitos entre eles foram conduzidos na França pelos gestores de contas do banco.
Todos foram encorajados, pelo comitê executivo do HSBC PB, a melhor camuflar seu dinheiro por trás da proteção de estruturas offshore, geralmente baseadas no Panamá ou nas Ilhas Virgens britânicas, tudo a fim de evitar certas taxas europeias, notadamente a taxa ESD, instituída em 2005.
Os investigadores dispõe daqui em diante de elementos materiais atestando esses delitos…
Para um caso excepcional, um tratamento excepcional: destinatário exclusivo destas informações explosivas, Le Monde decidiu, na primavera de 2014, a fim de assegurar tratamento o mais exaustivo e mais rigoroso possível, de compartilhar seus dados com as mídias internacionais graças à ICIJ, baseada nos Estados Unidos, as quais já haviam colaborado com Le Monde, notadamente nas operações “Offshore Leaks” em 2013 e “LuxKeaks” em 2014.
No total foram mobilizados, na maior discrição,154 jornalistas de 47 países trabalhando para 55 mídias (o The Guardian na Grã-Bretanha, o Süddeutsche Zeitung na Alemanha, o programa “60 minutos “, da CBS nos Estados Unidos…).
O HSBC Private Bank, bem como as autoridades políticas e judiciárias suíças, contestam o início do caso e também as cifras estabelecidas pelo fisco e justiça francesa, a qual pela utilização dos dados obtidos os apontam como motivo de um roubo.
Seu autor, Hervé Falcioni, o qual tenta vender seus fichários antes de, mudar de ideia, e entregá-los às autoridades francesas foi, aliás, acusado por parte do ministério público da Confederação helvética em 11 de dezembro de 2014 por “espionagem econômica”, “subtração de dados” e “violação dos segredos comercial e bancário”.
A Suíça, a qual vê com maus olhos as investigações feitas pela justiça e fisco franceses considera, sobretudo que os dados iniciais foram traficados, o que desmerece formalmente a investigação judicial francesa – da mesma forma que as investigações do Le Monde.
Em 27 de fevereiro de 2014, os dois juízes encarregados do caso concluíram sobre as listas “a autenticidade foi verificada pelas auditorias de numerosos titulares de contas, os quais, de resto, fizeram concessões à administração fiscal sobre a base deste fichário”.
Por seu turno, o HSBC PB parece prestes a fazer o mesmo com a justiça francesa a fim de evitar um processo ruinoso – e não somente em termos de imagem…
Nota do tradutor:
Cerca de 4% das contas acima mencionadas como de lavagem de dinheiro pertencem a titulares brasileiros.
E as agências deste banco do mal infestam as ruas de nossas cidades.
Até quando?
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