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Quando ainda jovem adulto passei a conviver socialmente com um General do Exército aposentado.
Homem instruído, da gloriosa cavalaria, lia muito, bom esposo e querido pai. Politicamente, era um militar atento observador da ordem constitucional, estritamente, dentro da legalidade.
Como bom professor de geografia e matemática, ensinava com carinho seus alunos e os conduzia às atividades inerentes à salvaguarda das instituições democráticas e à defesa da pátria. Em uma de nossas conversas, diante da liberdade fraterna que nos permeava, perguntei-lhe o que achava do golpe militar de 1964.
Com um meio sorriso amargo, baixou a cabeça, levantou os olhos e fulminou: “um crime cometido por, até então, não criminosos, fruto da insensatez de algumas mentes militares”.
Pedi que me explicasse um pouco melhor sua opinião sobre seus pares de generalato. E me respondeu: “em primeiro lugar houve uma questão ideológica e reforço externo para as ações que se sucederam, o que é complicado abordar e a história vai se encarregar de nos dar uma resposta adequada; mas o que, realmente, considero importante é salientar a insensatez daqueles que armaram a subversão contra um governo democraticamente eleito pelo povo”.
Uma insensatez que levou a um crime? perguntei.
“Os generais que deram o golpe não refletiram um segundo sequer sobre as consequências de suas atitudes”, prosseguiu.
E foi adiante, “ esqueceram que os soldados sob seu comando, na imensa maioria, jovens, seriam expostos a uma luta de vida ou morte contra seus irmãos, não figuraram dois de seus próprios filhos tiroteando entre si, uma loucura; um general é um soldado graduado, supostamente culto, que deve possuir uma visão global do alcance de suas ações; os generais de 64 não tiveram tal visão e como fruto de sua insensatez/crime sobreveio muito sofrimento ao longo de tristes 21 anos de ditadura; não tinham o direito de mandar jovens soldados expor suas vidas, pelo capricho de suas ideologias, durante um período de plena liberdade democrática em que vivia o país do então Presidente João Goulart.
Não quis perguntar-lhe mais nada, pois, seu velho semblante me dizia que o assunto lhe era, deveras, indigesto.
As malvadezas, torturas, assassinatos cometidos em nome da “revolução salvadora” ele, como todos nós, conhecíamos, restava-nos ficar atentos, vigilantes, para que jamais voltem a ocorrer em nossa pátria amada.
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