◘ ROMÃ, ROUPAS BRANCAS, E OUTRAS SUPERSTIÇÕES DE REVEILLÓN ◘

 (Foto: wikimedia commons)
Imagino que quase todo mundo acabe participando de uma superstição qualquer de ano novo,seja por convicção pessoal, pressão de amigos e família – minha mãe costumava garantir que todos tivéssemos uma peça nova de roupa branca para o réveillon, ano após ano – ou apenas por via das dúvidas: na casa onde cresci havia um pé de romã cujos frutos eram cobiçados, por amigos e vizinhos, no Dia de Reis.

“Superstição” é o nome de algo que pode ser definido como uma crença um relações espúrias de causa e efeito: acreditar, por exemplo, que bater na madeira afasta infortúnios, ou que usar uma determinada cor de cueca (ou calcinha) causa prosperidade.
Superstições podem ser fomentadas por coincidências, ou nascer de analogias fundadas em metáforas e no pensamento mágico  – por exemplo, no caso da suposta relação entre o amarelo, a cor do ouro, e a prosperidade financeira – e, uma vez adquiridas, tendem a se perpetuar. 
Em seu artigo clássico “Superstição no Pombo”, o psicólogo B.F. Skinner descreve como um pombo pode ser “convencido” de que certo comportamento faz aparecer comida, mesmo se a apresentação do alimento fosse automática, aleatória e não tivesse nada a ver com a movimentação do animal na gaiola. 
“O pássaro se comporta como se houvesse uma relação causal entre seu comportamento e a apresentação de comida (...)  Há muitas analogias com o comportamento humano. Rituais para mudar a sorte nas cartas são bons exemplos. 
Poucas conexões acidentais entre um ritual e consequências favoráveis bastam para armar e manter o comportamento,a despeito de várias instâncias sem reforço”, escreveu ele.
No caso das superstições de ano novo, a situação é agravada pelo fato de que as chamadas “instâncias sem reforço” – isto é, as ocorrências em que a prática supersticiosa não é seguida do resultado desejado – são muito difíceis de precisar, e tendem a acabar sufocadas pelo viés de confirmação e pela validação subjetiva.  
Seria necessário um evento especialmente dramático para alguém considerar que um ano inteiro, com todos os altos e baixos usuais, representou um rematado “fracasso” amoroso ou financeiro, digamos.
Também é importante notar que nem toda superstição é inócua. 
Muitas dessas práticas, principalmente quando adotadas por um grande número de pessoas, têm consequências econômicas e ambientais que vão além das intenções de quem as executa: uma só oferenda num lago pode ser um mero gesto de fé; dezenas, ou milhares, podem ser um episódio grave de poluição.
Falando em termos de ano novo, superstições sobre “anos bons” – ou maus – para ter filhos podem interagir de modo surpreendente com avanços tecnológicos, como a chegada dos contraceptivos: levantamentos mostram que picos importantes no número de nascimentos chineses durante o Ano do Dragão começaram a aparecer a partir da década de 70. 
Uma explicação para o fenômeno é a de que, havendo anticoncepcionais disponíveis, muitas famílias passaram a reservar sua reprodução para o ano auspicioso.
Mas esse tipo de superstição também pode ter consequências trágicas. De acordo com um estudo publicado em 1975, o ano de 1966, no Japão, foi excepcional pelo excesso de mortes por “acidente ou violência” de meninas recém-nascidas. 
Aquele foi o mais recente ano do Cavalo de Fogo, e meninas nascidas num ano regido pelo Cavalo, sob o elemento do Fogo – uma conjunção mística que, felizmente, só se repete em ciclos de seis décadas – são consideradas fonte de má sorte. Difíceis de casar.

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