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◘ SERÁ QUE QUANTO MAIS INTELIGENTES, MENOS CRENTES SOMOS?

Será que quanto mais inteligentes, menos crentes somos?: a pergunta da semana
A Ciência tem cada vez mais claro que existe uma correlação inversa entre inteligência e religiosidade: os mais inteligentes têm tendência a ser menos religiosos. 

Ao menos essa é a conclusão principal de uma pesquisa que revisa todos os estudos que analisaram esta relação polêmica entre intelecto e fé desde o início do século XX. 

Os autores sugerem que um maior intelecto perfaz as funções que a fé costuma cobrar.

Será que quanto mais inteligentes, menos crentes somos?: a pergunta da semana
Crédito da ilustração: Jose Antonio Penas.

A conclusão desta meta-análise indica que a religião cumpre uma série de funções para o ser humano que explicam sua sobrevivência ao longo da história. 

Para um número crescente de pessoas, no entanto, suas maiores habilidades intelectuais eximem a necessidade de um deus.

O trabalho, publicado na Personality and Social Psychology Review, recopilou todos os estudos que encontrou sobre religião e inteligência. Consultaram os arquivos na base de dados da Associação Americana de Psicologia que se ajustassem a termos de busca como "coeficiente de inteligência", "QI", "inteligência" ou "habilidades cognitivas" e, também temas como "religião", "espiritualidade", ou "crenças religiosas". 

Ademais revisaram um a um os artigos publicados em revistas científicas especializadas em religião e consultaram o Scholar, o buscador acadêmico do Google, com a combinação de palavras "religião + QI + inteligência".

Encontraram 62 estudos. A maioria media a inteligência com algum teste de QI ou, em particular no caso de pesquisa com estudantes, mediante exames de aptidão. As medições da religiosidade eram mais heterogêneas, desde escalas de crenças religiosas a perguntas do tipo "Você vai a missa?". 

Os cientistas codificaram todos esses valores para permitir uma comparação estatística.

- "53 estudos mostraram uma correlação negativa enquanto 10 apresentavam uma correlação positiva", diz o estudo. Isto é, desde um ponto de vista estatístico, altos valores na variável A (inteligência) correspondem-se com baixos valores na variável B (religiosidade). 

Ademais, em 33 deles a correlação negativa era para além do significativo. Mas correlação não significa causalidade.

- "Não sabemos se há uma relação causal e não descartamos outros possíveis fatores que possam influir na correlação", diz o professor do departamento de psicologia da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, e co-autor do trabalho, Miron Zuckerman, que também diz que analisaram outras variáveis como idade, sexo, raça ou educação. 

As três primeiras não afetavam à correlação e, na última, só um estudo estabelecia que sim, mas também era negativa.

A história desta problemática relação entre inteligência e religiosidade iniciou-se com uma série de estudos da Universidade de Iowa em 1928. Dois cientistas examinaram separadamente as correlações entre os sentidos, capacidades motoras e cognitivas com a religião. 

Para tanto incluíram testes de inteligência na bateria de tarefas que deviam ser realizadas pelos voluntários do estudo. 

Ambos os trabalhos concluíram que, maiores níveis de inteligência correspondem a menores graus de religiosidade.

30 anos depois, o pesquisador Michael Argyle recopilou todos os estudos publicados até então realizados com estudantes e jovens. Sua conclusão foi similar:

- "Os estudantes inteligentes tendem a aceitar menos as crenças ortodoxas e têm uma menor probabilidade para adota atitudes pró religiosas".

No entanto, os anos 60 concentram a maioria dos estudos que encontram uma correlação positiva ou inexistência dela entre religiosidade e inteligência. 

Em vários dos trabalhos destaca-se o papel mediador do ambiente social no qual alguém cresce para explicar o ateísmo ou teísmo.

Na última década a ciência voltou a meter o dedo na ferida e a totalidade dos estudos apontam uma relação inversa entre habilidades intelectuais e crenças religiosas. Em 2009, um amplo estudo em 137 países mostrou uma relação de novo negativa entre níveis médios de inteligência e religião.

A inteligência substitui a religião


Na segunda parte do trabalho, os pesquisadores, sem afirmar que existe uma relação causal, tentam explicar porquê os inteligentes costumam ser menos religiosos. Três são as hipóteses propostas. Por um lado, o ateísmo seria uma expressão de inconformismo. 

Os inteligentes têm uma menor probabilidade de conformar-se com a ortodoxia religiosa. Uma segunda possibilidade tem a ver com as habilidades cognitivas. Para estas pessoas más explicações e dogmas não lhes bastam, não podem aceitar as crenças que não estão sujeitas a exame empírico ou razoamento lógico. 

Seu estilo cognitivo, mais analítico que intuitivo, lhes torna refratários à religião. Esta é a tese mais aceita na atualidade.

Mas os pesquisadores apostam pelo que chamam equivalência funcional. Se a religião sobreviveu durante tantos milênios é porque cobre uma série de necessidades humanas. 

Para os autores do estudo, a inteligência também pode cobri-las. Assim, a religião permite um encaixe emocional, oferece a visão de um mundo ordenado e previsível. Também ajuda a autorregular os impulsos, ajustando a conduta em prol de objetivos. 

Outra de suas características é que eleva a autoestima. Por último, oferece uma área de conforto, um sistema de coesão que dá segurança em tempos de incerteza. A inteligência, segundo este trabalho, também pode prestar estes serviços, só que sem a necessidade do medo.

- "Uma das funções da religião é oferecer respostas às questões existenciais. Eu acho que uma alta inteligência também oferece estas respostas", opina Zuckerman. Mas há uma das funções características da religião na qual a inteligência não pode substituir e por isso os pesquisadores não a incluíram em seu conceito de equivalência funcional:

- "A única reserva que temos sobre isto é que a religião, ao responder às perguntas existenciais, alivia em certa medida, o medo à morte. Como informamos no estudo, não conhecemos pesquisa que demonstrem que a inteligência proporciona uma função similar".

O caso das crianças superdotadas


Há dois estudos que mereceram uma especial atenção por parte dos pesquisadores. Em 1921, Lewis Terman iniciou um estudo com crianças superdotados que ainda acompanha na atualidade. 

Ele buscava as bases genéticas de sua inteligência. Mas o acompanhamento de 1.500 crianças, com um QI médio superior a 135, ao longo de sua vida, incluía análise em profundidade de cada uma enquanto crescia, também de opiniões e sentimentos religiosos. 

Em uma escala de zero a quatro (onde zero significava que não davam nenhuma importância à religião), os pequenos apresentam níveis muito inferiores comparados com os da sociedade em geral. Ademais, sua religiosidade reduziu com a idade. Assim, os últimos dados disponíveis, de 1991, mostram um valor médio de 1,45 entre os superdotados já idosos em frente aos 3,50 da população.

Em 1989, outro estudo com superdotados resultou muitas similaridades. Naquela ocasião, pesquisaram crianças da escola elementar Hunter College. Esta instituição nova-iorquina é famosa por ser frequentada apenas por crianças superdotadas. 

Os pesquisados tinham então entre 38 e 50 anos e quando entraram à escola, o QI médio era de 140. Este estudo era diferente do original de Terman; aqui perguntaram pelas possíveis fontes de sua satisfação pessoal e na lista de múltiplas repostas aparecia a religião. 

Só 0,4% atribuiu os valores religiosos como parte do mérito de sua situação pessoal.

Religiões agonizando?


- "O fato é que as pessoas sem nenhuma afiliação religiosa constituem o grupo religioso que mais cresce em qualquer parte do mundo onde há um bom fluxo de informação. 

E as pessoas sem afiliação já são maioria em vários lugares. Nosso modelo sugere que esta tendência continuará", explicou um estudo publicado na revista Physical Review Letters, por Daniel M. Abrams, professor do departamento de Ciências da Engenharia e Matemática Aplicada na Universidade de Northwestern.

Em seu livro "Breaking the Spell: Religion as a Natural Phenomenon, o filósofo americano Daniel Dennett  propugna a pesquisa científica das religiões e tenta predizer seu futuro. Em uma de suas hipóteses mais radicais, o fenômeno religioso já agoniza:

- "Neste cenário, ainda que possa existir algumas manifestações de ressurgimento locais e temporárias, ou inclusive algumas catástrofes violentas, as grandes religiões do mundo logo se extinguiriam, como aconteceu com centenas de religiões menores que sumiram antes que os antropólogos pudessem sequer registrá-las", reflexiona Dennett, Diretor do Centro de Estudos Cognitivos da Universidade de Tufts, nos EUA. 

Nesse cenário extremo, ele crê que nossos netos viverão uma nova realidade:

- "Muito provavelmente nossos netos viverão a transformação da Cidade do Vaticano em um museu europeu do Catolicismo Romano, e Meca será o Mágico Reino de Alá de Walt Disney".

Como já havia escrito em outro artigo, a conclusão da correlação negativa entre inteligência e religiosidade deve ser considerada, nesse caso, em relação a inteligência analítica e lógica, sem levar em conta aspectos importantes como a inteligência emocional e a criatividade, quando também precisamos lidar e razoar com ideias complexas e aprender com a própria experiência. 

O que quero dizer é que é fácil demonstrar, sob critérios restritos, que pessoas com um QI superior não se envolvem em práticas religiosas, mas isso definitivamente não quer dizer que pessoas religiosas não são inteligentes.



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