Vozes influentes em Wall Street, CEO da Blackrock e co-fundador da Oaktree argumentam que cenário estabelece nova ordem global
Em carta a investidores divulgada nesta quinta-feira (24), Larry Fink, CEO da BlackRock, maior gestora de ativos do mundo, avaliou que o conflito na Ucrânia modificará as relações comerciais e estratégicas entre os países.
A reflexão acompanha o pensamento de
outro megainvestidor, Howard Marks, da gestora Oaktree Capital Management, que
também chama atenção para o fim da globalização. Os dois apostam no
fortalecimento dos mercados domésticos e em parcerias mais confiáveis.
Na avaliação de Fink, a
ofensiva militar russa uniu nações e empresas, solidárias ao povo ucraniano, na
tentativa de romper laços financeiros e comerciais com o país de Vladimir
Putin.
“A ação da Rússia na
Ucrânia e o desligamento do país da economia global levarão empresas e governos
em todo o mundo a reavaliar suas dependências”, reflete o investidor,
referindo-se às parcerias estrangeiras para produção de suprimentos.
Na visão de Fink, o
novo cenário vai gerar desafios – como custos mais altos e lucros menores – mas
abrirá oportunidades nos mercados domésticos e em países como México, Brasil,
Estados Unidos e centros industriais no sudeste asiático.
“A Rússia foi cortada
do mercado de capitais global, que mostrou o compromisso das grandes empresas
em operar de acordo com os valores fundamentais”, avalia Fink. “A invasão russa
da Ucrânia pôs fim à globalização que vivemos nas últimas três décadas”, projeta.
Na medida em que
aliados ocidentais reduzam a dependência das commodities russas, Fink prevê que
o setor de energia sofrerá um impacto significativo. Segundo ele, os
consumidores estão enfrentando custos de energia mais altos diante da oscilação
no preço do petróleo, que ultrapassou US$ 100 o barril no início deste ano pela
primeira vez desde 2014.
Como uma das
consequências do conflito, o CEO da BlackRock afirma que
a segurança energética se juntou à transição energética como uma das
principais prioridades globais.
Dependência do petróleo russo ainda
preocupa
A Rússia fornece atualmente cerca de um terço do petróleo utilizado na Europa, 45% do gás importado e quase metade do carvão. Diante dos números, a tarefa de inibir a ofensiva russa, por meio de sanções, se torna limitada, na avaliação de Howard Marks, co-fundador da Oaktree Capital Management.
Em carta a investidores,
divulgado na quarta-feira (23), ele também falou sobre as consequências da
guerra na Ucrânia e da pandemia da Covid-19. No aspecto comercial, destacou a
importância da busca por fornecedores mais seguros e confiáveis para recursos
essenciais, como a energia.
Na avaliação de Marks,
a invasão da Ucrânia mostrou que a importação de petróleo e gás da Rússia pela
Europa deixou o continente vulnerável a uma nação “hostil”.
“Como deve ser difícil
a busca por fontes alternativas de energia no curto prazo, proibir as
exportações russas causaria um impacto significativo no fornecimento de energia
da Europa”, alerta o investidor, que lembra ainda que a discussão ocorre em uma
época do ano em que a população necessita do aquecimento em suas casas.
Pandemia também evidenciou os riscos
da globalização
Além da dependência da
Europa em relação ao petróleo russo, as armadilhas da globalização já eram
verificadas antes mesmo do conflito na Ucrânia, aponta a carta mensal da
Oaktree Capital Management.
Nas últimas décadas,
muitas indústrias transferiram um percentual significativo da produção para o
exterior – principalmente para a Ásia – reduzindo os custos e utilizando mão de
obra mais barata, descreve o documento.
Como contrapartida, o
processo de terceirização impulsionou o crescimento econômico nas nações
emergentes, aumentou a competitividade dos produtores e forneceu produtos de
baixo preço aos consumidores, avalia Marks.
A alternativa, explica
o investidor, tem pontos positivos e negativos. No entanto, os fatores
negativos geralmente se tornam aparentes somente em períodos de adversidade,
como o atual.
A interrupção da cadeia
de suprimentos provocada pela pandemia mostrou um dos riscos da tendência,
quando a oferta não acompanhou a demanda elevada no período. O movimento gerou
escassez e, consequentemente, inflação.
O reconhecimento dos
aspectos negativos da globalização fez com que o investimento no mercado
doméstico voltasse ao radar. Em vez da solução fácil e barata,
provavelmente haverá mais prêmio para alternativas seguras, prevê Marks.
Na carta da Oaktree,
são citados casos de empresas americanas e não americanas que pretendem
construir novas plantas para produção de semicondutores nos Estados Unidos.
“E imagino que muitos
importadores americanos de materiais, componentes e produtos agregados estejam
procurando fornecedores mais próximos de casa”, diz o co-fundador da Oaktree.
Marks também sugere
que, agora, é menos provável que a Alemanha cumpra o plano de desligar, no dia
31 de dezembro, seus três reatores nucleares restantes. “É mais provável que
reative os três que aposentou no final de 2021”, conclui.
O investidor avalia que
fatores como segurança e confiabilidade deverão ser levado cada vez mais em
conta, após evidenciada a perigosa dependência energética da Europa e a
interrupção da cadeia de suprimentos vista na pandemia.
“Escolher contar com um
vizinho hostil para recursos essenciais é como construir um cofre de banco e
contratar a máfia para garantir a segurança”, reflete.
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